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Vítima de racismo no Peru, Tinga diz que sofreu com choro do filho

LIBERTADORES
Para volante do Cruzeiro, que perdoa agressores, atos foram de uma minoria

DIEGO IWATA LIMA DE SÃO PAULO

Tinga desembarcou ontem no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande SP, com o semblante fechado. Ele tinha sido vítima de racismo.

Anteontem à noite, o volante do Cruzeiro entrou aos 20 min do segundo tempo, na derrota por 2 a 1 para o Real Garcilaso, pela Libertadores, em Huancayo, a 300 km de Lima (Peru). Quando tocava na bola, a torcida imitava macacos.

"Eu trocaria todos os meus títulos pelo fim do preconceito. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças", afirmou, após o jogo.

Ontem, mesmo chateado, posou para fotos e deu autógrafos para quatro torcedores no aeroporto. "Estamos juntos", disse o analista de sistemas Thiago Alves. Tinga fez sinal de positivo, mas não sorriu nenhuma vez.

A maior tristeza do volante é pela família. "No futebol, a gente fica um pouco mais cascudo para esses coisas. Mas minha família não está preparada para isso", disse.

"Liguei em casa de manhã e soube que meu filho estava chorando e assistindo TV, nem mesmo quis ir à escola. Isso é ainda mais chato."

Vítima de racismo no início da carreira, ainda em Caxias do Sul, Tinga diz que ficou chocado. "Estava sendo muito bem tratado. Uma foto minha, inclusive, ilustrava o cartaz promocional da partida, que foi espalhado por toda a cidade", contou à Folha.

"Eu estava admirando o comportamento dos peruanos, apesar das dificuldades em que devem viver."

Ele atribui a manifestação à falta de cultura. "Foi possível notar que se tratava de uma população sem acesso à cultura", afirmou. "Acredito que esse ato seja coisa de uma minoria, que não é um comportamento geral do povo deles."

O jogador conta que percebeu sons quando foi assinar a súmula. "Mas eu estava muito focado em vencer o jogo. Não havia o que fazer."

Questionado se tomaria alguma atitude, Tinga responde: "Eu não tenho atitude para tomar. Vou fazer o quê? Tenho de continuar jogando."

Ao mesmo tempo, o volante diz que perdoa os torcedores. "Quem sou eu para não perdoar? Muita gente lá se solidarizou comigo. O presidente do clube e o técnico do time me pediram desculpas."

Ele também agradeceu o apoio que recebeu. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ligou para o presidente da Conmebol, Eugenio Figueredo, pedindo punição.

"Fico feliz com esse apoio. Mostra que estamos crescendo como povo." Sobre a punição ao adversário, Tinga afirma esperar que "o que for decidido seja o melhor para o futebol e para todos".

Para ele, o problema é maior. "Minha tese é que isso é falta de educação. Por isso, toco meus projetos sociais. Porque a educação para que isso não ocorra vem de casa. O racismo é só uma das questões. O preconceito social, de ter ou não ter algo para poder ser aceito, é ainda mais rotineiro."


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