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Xico Sá

Carta a messiê Jérôme

A Fifa não poderia ser menos arrogante e entender o que se passa no país? Até a ONU revê seus acordos

Amigo torcedor, amigo secador, peço a devida licença para me dirigir especialmente à senhora Fifa, na pessoa do seu secretário-geral, Jérôme Valcke, sempre em visita a este país com a sua panca de colonizador fanfarrão do Velho Mundo.

Tudo bem, o sr. pode alegar que não tem culpa se o governo rubricou e assinou tudo em submissa e cordialíssima obediência de colonizado. O governo talvez tenha o mesmo hábito popular de não ler aquelas letrinhas contratuais.

Sim, oui, messiê, as digníssimas autoridades da terra do pau-brasil fizeram uma faraônica e franciscana transposição do dinheiro público para sumidouros privados. O sr. está certo nesse ponto: os governantes aceitaram tudo, agora não reclamem.

Queriam mostrar que são a nova potência, o país da vez e da moda no mundo? Agora agasalhem as obrigações. As ponderações de vossa senhoria, sr. secretário, são até razoáveis ao pé da letra fria e miúda dos termos. Cumpra-se e escutem o grito das ruas.

Nem que seja o grito abafado pelos gols. Nelson Rodrigues diria que diante do primeiro gol dos canarinhos, não haveria um só brasileiro decente que fizesse coro com os grupelhos de manifestantes. Será?

Continuasse o gênio pernambucarioca com a opinião que conservou desde a Copa de 1958, certamente manteria a ideia clássica da "Pátria em chuteiras" --o que é bem diferente do pachequismo de ocasião. O futebol brasileiro, segundo as suas crônicas, estava acima do bem e do mal das ideologias.

Viajamos na mesa branca. Voltemos ao destinatário inicial. Caro Jérôme, letrinhas contratuais à parte, o sr. não acha que, diante do cenário que se anuncia desde os protestos da Copa das Confederações, a Fifa não poderia ser menos arrogante e entender o que se passa no país? Até a ONU revê seus acordos, ora bolas!

Por que insistir, por exemplo, nestes currais festivos, com seus reis dos camarotes, as tais fan fests? A festa, no Brasil, é em qualquer canto, não sob placas oficiais, jabás e abadás dos patrocinadores. A festa aqui é no bar do David, no Chapéu Mangueira --excelente para gringos e brasileiríssimos, seu Jérôme--, a fuzarca é no cabaré Lady Laura, lá no Crato; é na Beth Cuscuz, em Teresina; é no Zé Batidão, o agito da Cooperifa, na ZS paulistana.

A rebeldia do Recife, que se nega a bancar a farra copeira, messiê, está moralmente correta, seja atitude demagógica ou não do governador Campos, ops, do prefeito Geraldo Julio. Mesmo considerando que este mesmo poder andou pisando na bola em relação às manifestações culturais em Pernambuco, que em nada dependiam dos encafifados senhores.

Sr. Jérôme, mais juízo, considere o cenário dos trópicos no momento. Melhor que botar a perder, por letrinhas tão pequenas, a festa maior do futiba.

@xicosa


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