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Meu grande desafio

O primeiro árbitro brasileiro a apitar uma final de Copa, em 1982, relembra a emoção da escolha e vê o juiz de 2014 bem preparado para representar o país

DEPOIMENTO À FOLHA

Recebi a notícia de que seria o árbitro da final da Copa de 1982 com surpresa. Nunca um sul-americano havia sido escolhido. Eu tinha 39 anos e outros árbitros naquele Mundial já estavam com 49 e tinham carreiras brilhantes, queriam encerrar suas trajetórias apitando uma final.

Eu havia apitado o jogo entre Alemanha e Inglaterra pelas oitavas de final. Foi um clássico de dois campeões mundiais e fui bem.

Aí o Brasil perdeu da Itália e ganhei a chance de apitar mais um jogo. Quando uma seleção vai avançando na Copa, o árbitro daquele país vai ficando de fora.

Voltei a treinar, mas as escalas saiam e nada de o meu nome aparecer. Achei que ia ficar para a próxima.

Mas então secretário da Fifa me ligou. Passou um filme na minha cabeça. Liguei para avisar minha família, feliz.

Conhecia um rapaz, o Sérgio Noronha, jornalista desde a época do futebol de praia, e liguei para lhe contar a novidade. O Galvão [Bueno] atendeu e disse que eu havia ligado para o quarto ao lado. Falei para ele: "Eu vou apitar a final!". Estava eufórico.

O Galvão diz que eu ficava gritando no telefone "sou eu, sou eu", mas não foi bem assim. As mensagens de felicitações começaram a chegar: "Você é Brasil", "Apite por nós". Era emocionante.

No meu primeiro jogo como árbitro contratado, Palmeiras x São Bento, meu irmão foi de ônibus do Rio para São Paulo e ficou na arquibancada vazia, sozinho, gritando "Arnaldo, Arnaldo".

Quando liguei para ele para contar sobre a final, ele já havia comprado a passagem. Dei a ele os dois ingressos que tinha para o jogo. Na hora do hino nacional, ouvi alguém gritando da arquibancada "Arnaldo, Arnaldo". Era ele, sozinho lá em cima, como naquela primeira partida.

Já revi aquela final, houve algumas falhas. Eu estava magrinho, tenso para burro.

Um árbitro que apita uma Copa tem que assumir a responsabilidade e ser feliz para que não aconteçam lances polêmicos que possam prejudicar sua arbitragem. É um grande desafio.

O Sandro Meira Ricci [árbitro brasileiro na Copa de 2014] terá um grande desafio. Desde amigos do trabalho até o pai, a família, o porteiro, todos estarão de olho nele.

Ele tem que se orgulhar. Se tiver uma atuação marcante, pode chegar à final. E está preparadíssimo, fez tudo certo: ficou mais reservado, não apitou muitos clássicos para não se expor, não entrou em debates e está se preparando bem fisicamente.

Hoje, apitar uma partida de futebol é mais complicado. Em cada jogo tem umas 30 câmeras mostrando todos os ângulos. Sempre vai aparecer algo diferente, algo que os olhares dos árbitros e assistentes não puderam captar. O lance vai passar muitas vezes na TV, ser analisado por todos os lados. O futebol também está mais dinâmico, mais veloz.

A arbitragem dessa Copa do Mundo vai ser boa, mas não vai ser 100%.


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