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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Não eram infalíveis

Ronaldo, nosso menino prodígio, parecia bêbado ou emaconhado ou dopado de Rivotril

Tem vezes em que um ano inteiro se esconde atrás de um dia só: 1989 está condensado na queda do Muro de Berlim, 2001 virou sinônimo do 11 de Setembro. Quando a gente pensa na Copa de 1998, só vem à cabeça o dia 12 de julho. A final da Copa de 1998 é o 11 de Setembro brasileiro.

Para os moleques nascidos nos anos 90 que não sabem o que eu estou falando e acham que o mundo começou na gloriosa seleção de 2002: o Brasil de 1998 tinha uma seleção estelar, com a autoestima elevadíssima pela Copa de 1994. Nem precisamos jogar as eliminatórias!

Bebeto, nosso bom moço, calçava 38 e tinha canelas de graveto, mas entrava em campo com a altivez de quem vai fazer um gol de voleio. E volta e meia fazia.

Ronaldo, menino prodígio alçado à categoria de novo Pelé, tinha 22 anos e já estava em sua segunda Copa --a primeira como titular.

Rivaldo, comprido e canhoto, era um goleador imprevisível. Taffarel era um goleiro que saía do gol com a segurança de quem tinha um exército por trás. Os veteranos Cafu, Aldair e Dunga ajudavam-no a trancar a defesa.

Faltava Romário, é claro. Por causa de um estiramento na coxa, o baixinho foi barrado por Zagallo --embora o estiramento não fosse grave e ele estivesse em plenas condições de jogar, segundo ele próprio. Talvez ele tivesse feito toda a diferença. Talvez.

O que aconteceu antes do dia 12 de julho não ficou para a história. O Brasil teve toda sorte de jogos: algumas goleadas, outros jogos dificílimos. Quase paramos nas quartas, com a Dinamarca, e na semifinal, com a Holanda. Mas nada disso importa mais, ninguém parece lembrar.

Parece que o pentacampeonato era inevitável, não fosse a noite trágica em que ninguém sabe o que aconteceu.

Os fatos são estes: à tarde, Zagallo apresentou a escalação para a grande final. Não constava o nome do nosso fenômeno. Ronaldo não estaria em condições de jogar. No seu lugar, Zagallo escalou o animal Edmundo.

O pessoal não entendeu nada. Entenderam menos ainda quando, na hora H, surgiu Ronaldo, escaladíssimo. Mas esquisitíssimo. Não parecia ele. Era como se ele não tivesse surgido. Era como se o nosso menino prodígio estivesse bêbado. Ou emaconhado. Ou dopado de Rivotril. Ou tudo junto.

A França aproveitou pra montar em cima. Zidane comandou o massacre: dois gols no primeiro tempo. Petit fechou o caixão: 3 a 0. O sentimento de vergonha se misturava com a indignação. O que é que aconteceu com nossos heróis do tetra?

As teorias começaram a surgir. Alguns sustentavam que Ronaldo teria descoberto que sua namorada Suzana Werner tinha um caso com Pedro Bial. Outros que ele era alcoólatra e entrou bêbado em campo. Outros que a Copa teria sido comprada pela França. Ou pela Nike. Ou pela Globo (a Globo está sempre metida nessas coisas).

Alguns diziam que a Globo, a Nike e a França teriam feito uma vaquinha para comprar a Copa. Tudo era possível. Só não era admissível que nossos heróis tinham dado aquele vexame.

Hoje, o consenso é que o time já não estava lá essas coisas. Já tínhamos perdido para a Noruega na primeira fase. Quase perdemos da Holanda, da Dinamarca e da Escócia.

Não foi uma campanha linda. Longe disso. O time estava desunido. Os jogadores não se suportavam. Nas coletivas de imprensa, trocavam alfinetadas. A derrota já havia começado a acontecer muito antes da final. A verdade é que não foi uma seleção memorável.

Para mim, aos 12 anos, eles eram infalíveis. Ao menos Romário continuou sendo.


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