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Paulo Vinícius Coelho
A indústria do futebol
Refinanciamento tem de exigir contrapartida; não é esmola, mas integrar o futebol à economia
Toninho Nascimento e Alexandre Kalil encontraram-se no início da manhã de terça-feira, no seminário Business F.C., em São Paulo. Nascimento, secretário nacional de futebol, festejava poder negociar a confecção da lei de responsabilidade do esporte com apenas um dirigente de clube.
"Ano passado, eu tinha de conversar com 20 pessoas diferentes. Agora resolvo tudo com o Vilson de Andrade, presidente do Coritiba."
O encontro com Kalil desmentiu essa chance. O presidente do Atlético-MG disse logo de cara ser contra a lei de responsabilidade, o projeto de refinanciamento dos débitos fiscais que será votado no Congresso Nacional.
"Não adianta refinanciar as dívidas antigas e não ter uma legislação que torne viável pagar os impostos novos, caros demais", disse Kalil. "Eu deixo a presidência no final do ano, mas renunciaria se houvesse chance de rebaixar meu time por não conseguir pagar tributos."
Depois, Kalil atenuou o discurso. Disse ser favorável ao refinanciamento, mas julga indispensável discutir os valores dos tributos novos.
Os clubes têm de pagar o imposto velho e o novo. Hoje em dia, muitos devem valores acima de R$ 200 milhões. Por isso, não pagam nem os tributos passados nem os atuais.
O que é um fio de cabelo branco para quem já ficou careca?
Qualquer proposta de refinanciamento tem de exigir contrapartida. Não é esmola. É integrar o futebol à economia para gerar empregos e para o Estado arrecadar. É o que ocorre na Espanha, Inglaterra e Alemanha. Lá também há picaretas, mas as regras são mais rígidas.
Hoje o governo recebe quase zero. Pode passar a receber R$ 174 milhões por ano.
Quinta-feira, no encontro com jornalistas -Juca Kfouri e eu estávamos lá-, a presidenta Dilma Rousseff teve uma radiografia do sistema feudal que persiste no futebol brasileiro.
Ela comparou o trabalho para integrar o futebol à economia com o que se fez com os portos. "É sempre difícil interferir em setores que têm vícios muito antigos", ela disse.
Comprometeu-se a receber o Bom Senso F. C. antes da Copa e perguntou três vezes qual é o ponto de ruptura para acabar com as capitanias hereditárias da bola. Dilma disse: "A hora é essa!"
Deveria ter sido em 2007.
Não se trata de dar dinheiro a cartolas, mas de criar regras rígidas e obrigar o futebol a se adaptar a elas.
A presidenta fala do legado das obras de mobilidade urbana, que já deveriam estar prontas e serão concluídas nos próximos anos.
Dá tempo de fazer mais.
"Ganhando ou perdendo a Copa do Mundo, temos de adequar o futebol aos novos tempos." Foi Dilma Rousseff quem disse isso. Só o tempo vai dizer se irá acontecer. Mas é a primeira vez que o governo assume esse compromisso.