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Sem memória

Cidade onde a seleção de 1950 se concentrou, Araxá (MG) mal se lembra do time de Barbosa

MARCEL RIZZO ENVIADO ESPECIAL A ARAXÁ (MG)

Há 64 anos, para a primeira Copa no Brasil, a seleção também teve um período de concentração, como o que se inicia nesta segunda (26) em Teresópolis (RJ).

Mas era diferente, muito diferente do atual.

Em março de 1950, 28 jogadores se fecharam no Grande Hotel do Barreiro, em Araxá, cidade mineira a 320 km de Belo Horizonte, conhecida por suas águas medicinais.

Foram 32 dias por lá, do total de mais de dois meses que a seleção teve para se preparar para a Copa naquele ano --o time de Felipão ficará 17 dias na Granja Comary até a estreia em 12 de junho.

Inaugurado em 1944 pelo então presidente Getúlio Vargas para ser um cassino, o local, hoje um resort, transformou-se exclusivamente em hotel dois anos depois, com a proibição dos jogos de azar.

Restaurado ao longo dos anos 1990 e 2000, o hotel preserva algumas características de quando a seleção, que ficaria marcada pelo fracasso ao perder a final para o Uruguai por 2 a 1, esteve por lá.

Há objetos da época, como uma balança que provavelmente foi usada para pesar os atletas --diferentemente de hoje, a CBD (CBF da época) divulgava diariamente o peso dos atletas.

O hotel, contudo, não tem registros oficiais da estadia dos jogadores. Com raras exceções, a cidade de Araxá apagou da memória a presença da seleção derrotada em 50. Restam mais lembranças de outro grande time, que lá esteve oito anos depois.

Pelé e Garrincha estiveram em Araxá em 1958, concentrados com a seleção para a Copa da Suécia, em que o Brasil levou seu primeiro título.

No Grande Hotel do Barreiro, há mais fotos da seleção vencedora. Entre os mais antigos da cidade, corre a história de que, com fortes dores, Garrincha teve um dente arrancado por um dentista local. E o dente teria virado atração de um bar de Araxá.

As recordações de 1950, no entanto, são escassas.

"Meu bisavô trabalhou na construção do hotel, meu avô e meu pai trabalharam aqui. Mas nunca contaram histórias da seleção de 50", disse Adriana Gimenes, coordenadora das termas de águas medicinais que fica anexo ao hotel desde os anos 40.

Há poucos sinais do time do goleiro Barbosa, como a foto da excursão de alunos de uma escola da região para visitar a seleção (leia na pág. D7) e a memória do jornalista Alcino de Freitas.

Então com 8 anos, Freitas lembra que foi mensageiro dos locutores quando a seleção treinou no estádio local.

"Não havia repórteres. Então, os locutores ficavam sentados à beira do campo e me pediam para chamar os jogadores que queriam entrevistar", lembrou o jornalista.

Os 28 jogadores pré-convocados foram a Araxá principalmente para fazer um trabalho de preparação física.

Havia tempo de sobra até a Copa, e nem mesmo o técnico Flávio Costa esteve todo o período em Minas Gerais.

Quem acompanhou o time durante os 32 dias foi Vicente Feola, que comandava a seleção paulista e seria o técnico campeão em 58.

RÁDIO DE PILHA

Nem todos se sentiram à vontade em Araxá. Nos primeiros dias, Ely, zagueiro do Vasco, queria ficar com a seleção, mas não concentrado. Ouviu não e desistiu de sair.

Logo no segundo dia, os jogadores exigiram aumento do pagamento da diária. Inicialmente, a prefeitura de Araxá pagaria 40 cruzeiros (equivalentes hoje a R$ 40) a cada atleta. O valor aumentou para 70 cruzeiros, com a diferença na conta da CBD.

Era dinheiro pra comprar um rádio de pilha. Hoje, a CBF paga o valor que o atleta recebe no clube (Neymar, por exemplo, embolsa mais de R$ 2 milhões mensais).

Os jogadores andavam a cavalo, nadavam, pescavam, mas sentiam falta da família.

Se em 2014 a Granja Comary tem área de convivência e churrasqueira para os parentes serem recebidos, as cartas enviadas de Araxá em 1950 não chegavam às famílias ou demoravam muito, por conta da precariedade dos meios de transporte da época.


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