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A revanche da caxirola
Apesar da proibição a instrumentos musicais nos estádios, multinacional promete espalhar milhões de chocalhos e apitos durante a Copa
Vetado nos estádios da Copa no Brasil, o chocalho de plástico batizado de caxirola ainda tem chances de entrar para a história do torneio.
Ao menos essa é a expectativa da multinacional americana The Marketing Store, que planeja espalhar milhões de unidades do produto em mais de 2.000 pontos de vendas por todo o país.
A estratégia inclui ainda a promoção de um segundo instrumento musical, o pedhuá, versão de apito indígena, de plástico, com o brasão da seleção brasileira.
Mesmo antes do início da Copa, a empresa já vendeu mais de 1 milhão de apitos --metade dessa produção exportada para outros países. O preço de cada pedhuá varia entre R$ 14,90 e R$ 24,90.
"Disseram que 50 milhões de apitos seriam vendidos. É um exagero, mas acredito que iremos vender ao menos 5 milhões", estimou Alcedo Medeiros de Araújo, 47, o inventor do pedhuá da Copa.
Morador do município de Campina Grande, na Paraíba, ele disse à Folha que tudo começou com Cléber Machado, narrador da Globo.
Era dia 22 de junho de 2011. Araújo assistia pela TV a Santos e Peñarol, jogo final da Libertadores. "Durante a transmissão, o Cléber Machado disse que a direção do Santos havia distribuído milhares de apitos aos torcedores. Naquele instante veio a ideia de criar um apito para a Copa."
Professor de educação física, ele vendeu a casa que estava construindo para sua família em Campina Grande e usou todas as economias para desenvolver o tal apito.
Meses depois, o projeto de Araújo recebeu um apoio institucional do Ministério do Esporte, que selecionou uma lista de 96 projetos com potencial para promover o Brasil durante a Copa.
A escolha não estava associada a qualquer tipo de recurso financeiro federal. Entretanto, a visibilidade obtida na ação do governo resultou na proposta de parceria da multinacional americana.
O pedhuá também está vetado nos estádios. Na Copa, a entrada de qualquer instrumento musical em estádios foi proibida pela organização.
A exceção seria a caxirola. Brown chegou a sacudir os chocalhos coloridos ao lado da presidente Dilma Rousseff em cerimônia no Palácio do Planalto, em 2013. Dilma chegou a dizer que a caxirola era "um instrumento mais interessante do que a vuvuzela".
Faltava testar dentro de um estádio. Cinco dias após a audiência em Brasília, 30.000 caxirolas foram distribuídas aos torcedores de Bahia e Vitória, na Fonte Nova, em Salvador, em evento-teste para a Copa das Confederações.
A estreia da vuvuzela brasileira foi desastrosa. Revoltados com o desempenho de seu time, torcedores do Bahia promoveram uma chuva de caxirolas no gramado.
A Fifa deixa a critério dos organizadores locais a decisão de liberar ou não acesso de torcedores com instrumentos musicais nos estádios.
Depois do episódio em Salvador, o Ministério de Justiça recomendou a proibição da caxirola nos estádios da Copa, orientação prontamente acatada pelo COL (Comitê Organizador Local da Copa).
Segundo a Marketing Store, uma segunda versão da caxirola, "mais leve e flexível", foi desenvolvida para o uso em estádios. Um novo pedido foi enviado ao COL, que não apresentou sua resposta.
À Folha, o comitê organizador informou que todas as versões da caxirola estão proibidas nos estádios.
O veto, contudo, não significa o ocaso do instrumento. A Fifa firmou parceria com a Globo Marcas para comercialização de artigos licenciados do Mundial. Vendida a R$ 29,90, a caxirola está entre os produtos mais populares na lista com mais de 1.500 itens autorizados a usar o logotipo da Copa do Mundo de 2014.