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O PM e o militante

Os mineiros Steevan Oliveira e Luiz Fernando Vasconcelos são amigos em campos opostos num jogo de regras brutais

ELIANE BRUM ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Em dia de jogo Brasil x Chile, no Mineirão, em Belo Horizonte, Steevan Oliveira e Luiz Fernando Vasconcelos acordam com propósitos diferentes. Steevan vai vestir a farda de policial militar para atuar em caso de "confrontos violentos". Ele integra a tropa de choque da Polícia Militar mineira, faz a ronda com cães. Luiz é uma das lideranças dos protestos anti-Copa. Vai vestir sua camiseta contra a Fifa e denunciar "a apropriação do espaço público por uma entidade privada". O movimento que Luiz representa defende o fim da PM. O tenente Steevan quer ser PM a vida inteira. Eles representam duas forças que estão nas ruas na Copa no Brasil de 2014.

Entre eles, há uma ponte frágil, uma amostra das fraturas provocadas pela desigualdade do país. Ambos são alunos do curso de mestrado em direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas, no curso, Steevan é o único PM na linha de frente. É uma história semelhante à do filme "Tropa de Elite", de José Padilha. Na ficção, o personagem André Mathias (André Ramiro), policial militar do Rio, tenta cursar a Faculdade de Direito e é encarado com desconfiança pelos colegas de classe média, que defendem as causas de direitos humanos. Tenta se incluir, mas as contradições da realidade o excluem. Com a implosão de qualquer ponte possível, ele escolhe um lado. No segundo filme, acaba morto por facções corruptas da própria polícia. "A voz do policial não é ouvida no mundo acadêmico. É preciso trazer a realidade para dentro da universidade", diz Steevan. "O André, no filme, morre duas vezes. A morte concreta e a primeira, na faculdade, quando sua voz não é escutada. Eu ainda estou vivo."

Luiz Fernando é advogado que trabalha como voluntário para causas sociais. Pertence às Brigadas Populares, organização política que reivindica a reforma urbana, entre outras bandeiras. Seu movimento defende a extinção da Polícia Militar. Em um protesto, no segundo semestre do ano passado, Luiz Fernando e Steevan encontraram-se. "Foi um estranhamento vê-lo de farda. Mas conseguimos uma solução pelo diálogo", conta. "Considero ele um amigo, mas sei que, se o bicho pegar, a PM vai reprimir."

Belo Horizonte foi um dos principais palcos dos protestos de junho de 2013. A repressão policial foi violenta. As manifestações con- tra a Copa são muito menores, ainda assim manifestantes foram presos e uma repórter da Mídia Ninja afirma ter sido espancada. A Advocacia Geral do Estado conseguiu derrubar, nesta quinta-feira (26), uma liminar que colocava limites na ação da polícia. Os movimentos ainda tentarão fazer um ato antes do jogo de hoje. A PM convocou unidades do interior do Estado e botou mais de 13 mil policiais nas ruas. "Vivemos uma situação semelhante à da ditadura militar", diz Luiz Fernando. "Gritam ditadura quando aparecemos, mas eu nem vivi a ditadura, nem a maioria dos manifestantes", defende Steevan. "Minha lógica não é a do nós e eles. São papéis diferentes."

Hoje, Steevan e Luiz Fernando poderão se encontrar, em campos opostos. Esse drama brasileiro continuará depois da Copa, num país de pontes muito frágeis.


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