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Depoimento

Não vim de Marte. Sou PM em uma sociedade desigual

DA ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Nós, PMs, somos a voz que a sociedade não escuta. Quando morremos, ninguém percebe que há uma pessoa dentro da farda. De onde eu vim, a periferia de uma cidade pequena, São João del-Rei, ter um filho policial militar é um motivo de orgulho. Para meus colegas da UFMG, é ruim. Quando fiz seleção de mestrado, ao dizer que era PM, uma professora falou: "Coitado". Era como se ela dissesse: como ele quer entrar nesse jogo? Esse jogo não é para ele.

No início, eu sentia o estranhamento dos colegas, um movimento corporal de afastamento. Estudei em colégio fraco, filantrópico. A maioria estudou em bons colégios, fez intercâmbio. São filhos de juízes, de grandes empresários. Fui a uma festa de uma colega, era uma mansão, tinha até manobrista. Me dei conta de que eu podia ser o manobrista. Nunca mais fui.

Mas eu queria teorizar a minha prática. E praticar a teoria. Fui para a universidade para pesquisar as manifestações, porque é lá que se constrói o conhecimento, mas dentro da biblioteca. Minha voz não está lá, e eu queria levar a minha voz.

Para a o mundo acadêmico, a polícia faz repressão. Para mim, o que faço é mediação. Sou favorável às manifestações. Numa democracia, a participação não pode se restringir ao voto na urna. Mas, se há aquele que quer protestar, há também o que quer passar. E somos nós que precisamos mediar isso. Um juiz toma decisões difíceis, mas ele está sentado numa cadeira confortável, no ar condicionado, com assessores. Sua decisão tem recurso. Um PM precisa decidir em segundos se aquela pessoa tem uma arma ou um celular. Seu erro é para sempre.

Dizem que a polícia brasileira é violenta. Mas a sociedade brasileira é violenta. O policial não vem de Marte ou da Lua. Vem da mesma sociedade desigual. A participação nos protestos diminuiu por causa da polícia? O que eu vejo é que, quando começa o jogo do Brasil, das 400 pessoas ficam 30. Isso quer dizer alguma coisa.


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