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Depoimento Luiz Fernando Vasconcelos

PM mantém uma ordem que é desordem

DA ENVIADA A BELO HORIZONTE

Numa aula, a professora pediu para todos se apresentarem. Eu falei que pertencia às Brigadas Populares, participava de vários movimentos sociais. Em seguida, o Steevan veio falar comigo. Um policial militar simboliza o sistema contra o qual lutamos. Ainda mais um PM da tropa de choque. Já levei um cassetete nas costas do ex-chefe dele numa ocupação. A primeira reação é de animosidade. Mas ele não estava de farda. Quando o encontrei num protesto no segundo semestre de 2013, tive um estranhamento. Mas conhecê-lo fez a diferença. Defendíamos o fim da PM, prenderam um estudante que estava pichando. Tudo se encaminhava para a violência. Conseguimos uma solução pelo diálogo.

Ele hoje é um amigo. Mas a Polícia Militar serve à manutenção de uma ordem que é uma desordem. A lógica deles é a da hierarquia, a de que o militar está acima do civil. É preciso quebrar essa hierarquia. A Copa do Mundo criou uma cidade de exceção. Belo Horizonte é hoje um território da Fifa, uma das entidades mais corruptas do mundo. Os policiais estão usando câmeras nos capacetes, as pessoas estão sendo filmadas, e os movimentos sociais, criminalizados.

Se as manifestações arrefeceram nesta Copa, o fator decisivo foi a repressão policial. A cada protesto, somos envelopados pela polícia. Ninguém entra, ninguém sai. Mesmo manifestantes que estão há anos nas ruas ficam com medo de serem presos. Criaram um inimigo da sociedade, não se distingue mais quem depreda de quem tem pauta definida: todos são vândalos.

Sempre torci pelo Brasil na Copa do Mundo. Não consigo mais. Só em Belo Horizonte, são 14 mil atingidos pelas obras. Quando vi, estava torcendo pela Argentina. Me esgoelando ao cantar "Maradona es más grande que Pelé". Pelé é totalmente submisso à Fifa, achou normal morrer um operário numa obra. Fico me perguntando se, na próxima Copa, vou conseguir voltar a torcer pelo Brasil.


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