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1º brasileiro a jogar na NFL mira expansão do esporte
FUTEBOL AMERICANO Cairo Santos faz hoje seu segundo jogo na liga
Quase 80 mil pessoas lotaram o estádio Arrowhead, há uma semana, para ver a estreia do Kansas City Chiefs na temporada da NFL, a liga de futebol americano dos EUA.
Cairo Santos, 22, em nenhum momento encarou a turba. Estava tão nervoso e emocionado que nem se sentia o mesmo.
Ainda assim, acertou quase todos os chutes no aquecimento --Cairo joga como ki-cker, jogador que pontua por meio de chutes. Tinha o número 5 às costas e passava a ostentar um feito: era o primeiro brasileiro a jogar no multibilionário campeonato.
A concentração custou a chegar. "Eu só meio que prestei atenção na arquibancada na hora do hino dos EUA. Eu lembrei de quando ouvia a seleção brasileira cantando o hino nacional com o povo", afirmou Cairo à Folha.
Não foi uma estreia fácil para os Chiefs, que perderam por 26 a 10 para o Tennessee Titans em seus domínios.
Nem para Cairo, que acertou duas vezes a trave nos dois field goals (chutes que valem três pontos) que tentou: em um, a bola bateu e entrou; no outro, ela saiu.
"É tão raro acertar o poste e acertei duas vezes. Deve ter sido ansiedade. Em quatro anos de universidade, acertei a trave duas vezes", contou.
Ele foi respaldado. "O [técnico] Andy Reid falou para não me preocupar. Acontece", disse o atleta, de 1,73 m.
O conselho foi para que ele foque no jogo deste domingo, às 17h25, contra o Denver Broncos, atual vice. "Domingo não foi no meu melhor nível, mas bola pra frente, é ganhar o próximo jogo."
O que quer que o destino lhe reserve, Cairo traça como meta ajudar na popularização do esporte no Brasil.
"Um objetivo após a temporada é fazer eventos, levar jogadores daqui para aumentar a popularidade no Brasil."
Participar da elite do futebol americano, esporte em ascensão no número de telespectadores e praticantes no Brasil, não foi desde sempre um objetivo para Cairo.
Paulista de Limeira, ele queria vingar no futebol dos gols, não no dos touchdowns. Mas o destino o levou aos EUA aos 15 anos, para um intercâmbio, e aí a vida mudou.
Passou a se interessar pela bola oval e chamou a atenção de olheiros pela potência no chute. Uma curiosidade: como desconhecia as regras do esporte, comprou um jogo de videogame para tentar aprendê-las. Deu certo.
Depois de estudar na Flórida, acabou ingressando na Universidade de Tulane, em Nova Orleans, onde se destacou e ganhou uma importante premiação em 2012.
O sucesso universitário, porém, não foi suficiente para levá-lo à NFL. Mas tempos depois, um olheiro dos Chiefs o indicou e, desde maio, integra a equipe. Em agosto, foi confirmado para temporada.
"Ser o primeiro brasileiro a jogar na NFL é tão especial, que eu não acredito", diz.
A responsabilidade é grande, uma vez que os Chiefs almejam disputar o Super Bowl, a final do campeonato, em fevereiro --na edição passada, o time foi aos playoffs.