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Tostão
Interpretar é preciso
Em vez de novas regras, os árbitros precisam aprender a interpretar e a conhecer mais o futebol
Cheguei de férias a tempo de assistir aos jogos e aos programas esportivos do fim de semana, para tentar me atualizar e conhecer detalhes sobre o que ocorreu nas últimas três semanas.
Quando vou à Europa, costumo terminar a viagem em Lisboa, cidade que adoro por inúmeros motivos, além de reencontrar Fernando Pessoa, cada dia mais vivo. Conheci a casa-museu onde o poeta teria vivido seus últimos 15 anos. Perto, vi também a casa-museu onde teria morado a Pelé do fado, Amália Rodrigues.
Falo no condicional porque, com frequência, as coisas que vemos e lemos sobre os grandes personagens são apenas representações de suas existências.
No fim de semana, escutei, mais uma vez, que Ganso nunca será convocado porque Dunga quer jogadores velozes para o contra-ataque.
Para contra-atacar bem, é necessário ter, ao menos, um jogador veloz e outro com raciocínio rápido, de passe preciso, capaz de colocar a bola para o companheiro, no momento e no lugar exato, nem um centímetro e nem uma fração de segundos a mais ou a menos. Ninguém no futebol brasileiro, aqui ou fora, é melhor do que Ganso para dar esses passes.
O Cruzeiro jogou melhor, criou mais chances de gol, mas quem venceu foi o Atlético-MG, com bons contra-ataques, erros individuais de Éverton Ribeiro nos dois primeiros gols do Galo, dois gols do jovem promissor Carlos e o talento de Dátolo, em um passe excepcional, de curva, para Tardelli, com a bola contornando o espaço entre Fábio e Dedé.
Lucas Silva, além de marcar bem, melhorou no passe curto e longo, de um lado para o outro. Ele agora precisa aprender a dar, no momento certo, o passe mais rápido e para frente, como fazem os grandes volantes, para encontrar o companheiro perto da área, antes da chegada do marcador. Isso evita a perda de tempo do passe para o lado, como se fosse função apenas do meia o passe mais vertical, em direção ao gol. Nenhum volante brasileiro, aqui ou fora, faz isso com precisão.
O assunto mais discutido tem sido a nova regra do pênalti, quando a bola toca na mão ou no braço do defensor. Ficou mais confuso. Se, pela nova regra, foi correta a marcação do árbitro a favor do Corinthians, a regra é burra.
Os Zé Regrinhas querem acabar com a subjetividade, a interpretação e o bom senso. É impossível criar regras para tantas situações diferentes. A interpretação é necessária e importante, no futebol e na vida. Os árbitros erram muito, porque interpretam mal e, na média, não conhecem nada de futebol, como o do jogo entre Goiás e Palmeiras, que interpretou como atraso de bola para o goleiro o erro grosseiro de Lúcio, que rebateu a bola para trás.
Viver sem regras é o caos. Já o exagero de regras confunde e mediocriza. É uma tentativa inútil de atenuar a burrice e a ganância humana.