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Crítica livro

Mergulho no passado do Palmeiras pode ser uma fuga reparadora

Obra de Mauro Beting registra tempos gloriosos não só pelas conquistas, mas pela forte identidade forjada pelo clube

SÉRGIO RIZZO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Existem livros para ler, outros para ver. "Palmeiras, 100 Anos de Academia" é para ler, ver e tomar cuidado para não se machucar --o volume pesa o quanto vale, com quase 400 páginas, formato grande (23,5 x 31 cm) e capa dura. Se cair no pé, fará estrago.

"Machucar", nesse caso, tem ainda outro sentido, puramente sentimental. Se o torcedor se sente desolado ao consultar a tabela do Brasileirão, mergulhar no passado pode ser uma fuga reparadora, mas pode também doer.

O livro de Mauro Beting faz o registro de tempos gloriosos, não apenas pelas conquistas, mas pela forte identidade forjada ao longo do século 20, a partir da fundação do Palestra Itália, em 26 de agosto de 1914.

Identidade que ajuda a entender por que uma sociedade criada pela colônia italiana tornou-se um dos clubes mais populares do país e mantém acesa, apesar dos atuais tempos bicudos, a chama da paixão.

O trabalho iconográfico reúne imagens-chave para a construção dessa identidade. A minha preferida, na página 62, traz uma cena de vestiário no intervalo da partida decisiva contra o São Paulo pelo Paulista de 1950. Foi o "Jogo da Lama". Em pé, Jair da Rosa Pinto grita, com expressão de guerreiro. Agarrado à sua perna, outro jogador parece chorar. O goleiro Oberdan Cattani também está no chão. Todos enlameados.

Na volta ao gramado do Pacaembu, o time buscou o empate que valeu o título. Não é apenas um documento sobre o DNA do "Alviverde imponente" a que faz menção o hino; é também uma lembrança do que o futebol já foi.

Na primeira parte, o livro condensa a história do clube, da fundação à conquista da Copa do Brasil de 2012, à volta para a Série A do Brasileiro em 2013 e o novo estádio.

O texto de Beting é de jornalista-torcedor, cuidadoso no trato da informação, inclusive ao passar por períodos difíceis, como a fila de 1976-1993 e os rebaixamentos de 2002 e 2012, mas sempre apaixonado pelo seu objeto.

Encerrada essa apresentação estrutural (que sozinha já seguraria um volume respeitável), o livro traz galeria de ídolos (a começar pelo capitão Bianco Spartaco Gambini, autor do primeiro gol).

Depois, vem bloco com jogos históricos --como um 8 a 0 no Corinthians, em 1933, pelo "time dos 100 gols" de 1996-- e outro com depoimentos de torcedores, ilustres e anônimos.

Três páginas de estatísticas fecham o volume comemorativo ao centenário, com os 901 jogos de Ademir da Guia (entre os jogadores) e os 580 de Oswaldo Brandão (entre os treinadores) no topo dos rankings, inalcançáveis.

Mas nem tudo são flores. Interessados também em compreender as crises cíclicas do clube, em perspectiva histórica, vão encontrar no livro informações valiosas para examinar as turbulências.

"Enquanto o clube engatinhava em campo, a administração era instável", lembra Beting. "Trocas de presidentes eram comuns." Ele se refere ao período 1915-1917.

Diversas temporadas com trocas constantes de treinadores assinalam o óbvio: nenhuma terminou bem. Em setembro do ano do centenário, não custa observar, o time já está em seu terceiro técnico.

Se acontecer o pior em dezembro, não digam que a história não avisou e que "Palmeiras, 100 Anos de Academia" não lembrou.


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