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Lúcio Ribeiro

Ah, o povo...

Novos estádios trazem a modernização ao futebol, mas podem escantear o "verdadeiro" torcedor

Em 1991, fui a um jogo do Inglês no "barracão" que era o antigo estádio do Chelsea, então um time de bairro de Londres. Já falei isso aqui. Lembro que fiquei espantado como a torcida da casa, que provocada pelo menor grupo de entusiastas do Liverpool invadia o gramado e corria pela lateral do campo, para ir brigar com os rivais. E o jogo rolando.

Esse estádio não existe mais. Esse Chelsea não existe mais. É campeão europeu, vice mundial, milionário, internacional. O time, dos 90 para cá, vive a bonanza pós-modernização dos estádios, que elevou a níveis absurdos o padrão financeiro e a qualidade do futebol local.

Tudo bom, tudo bem. Dia destes o escritor pop Nick Hornby, celebrando os 20 anos de seu primeiro livro, "Febre de Bola", argumentou que os novos estádios levaram ao "futebol de elite" de agora, dizimando a presença do "torcedor comum". Defende que os jovens vão ao estádio com a mesma frequência que ao teatro: "três ou quatro vezes por ano". As arenas modernas deixaram os times ricos, mas expulsaram o "verdadeiro" torcedor. Nas primeiras filas, "novos ricos" como chineses ou russos gritando Chelsea, Arsenal, Liverpool com sotaque.

O Brasil começa agora a colocar em prática a modernidade que os ingleses experimentaram anos atrás. Três grandes estádios, dois deles sedes do Mundial 2014, estão sendo entregues ao "povo".

O novo Castelão foi inaugurado anteontem, em Fortaleza, enquanto na sexta que vem será a vez de BH receber o novo Mineirão. Junto do visual lindão das novas arenas, chega o dilema. De Minas Gerais, com o Mineirão moderno, vêm as reclamações dos torcedores do Cruzeiro contra sua diretoria, que reajustou os preços das três categorias do programa de seu sócio-torcedor em praticamente 80%. O ingresso mais barato para o "torcedor comum" custará R$ 50, "devido à comodidade e ao luxo do estádio".

O Sul mostrou a linda Arena do Grêmio. Erguida em tempo recorde, a nova casa do tricolor gaúcho não está escalada para abrigar jogos do Mundial, mas será palco de outras copas, como a Libertadores.

Um dos grandes charmes da nova casa do Grêmio, já que não vai ter que seguir o tal "padrão Fifa" do Mundial, é "rasgar" a norma para preservar o tradicional espaço dedicado à Geral, torcida organizada famosa na ex-casa da equipe, o Olímpico, no qual seus membros faziam a famosa "avalanche" atrás de um dos gols quando o Grêmio marcava. Uma típica "manifestação do povo", que mantém um bom lugar de pé em um estádio com mais de 50 mil cadeiras novinhas.

Estou curioso para ver o que vai ser feito do povo quando o time do povo, o Coringão, inaugurar seu tão esperado estádio na região do povo, Itaquera. Sobre o Maracanã, depois de ler a coluna de Ruy Castro nesta Folha, na sexta, já desconfio que sei o que vão fazer com o Zé.


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