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Entrevista Mark Spitz

Phelps não volta a nadar porque teme fracassar

Ex-nadador que teve recorde de medalhas diz que compatriota poria medo em qualquer um

PAULO ROBERTO CONDE DE SÃO PAULO

Mark Andrew Spitz, 63, abandonou as piscinas há 41 anos, mas com seu histórico desempenho nos Jogos de Munique virou referência.

Em 1972, ao ganhar sete ouros, consumou uma façanha que se supunha inalcançável. Tornou-se uma lenda.

Coube a Michael Phelps, em Pequim-2008, superar a lendária marca ao arrematar oito medalhas douradas.

"Discípulo e mestre" estarão no Rio nos próximos dias para raro encontro público. Participarão do Prêmio Laureus, espécie de Oscar do esporte, que ocorrerá amanhã.

Phelps disputa a láurea de melhor atleta de 2012, e Spitz é embaixador da fundação.

O ex-nadador falou à Folha, por telefone, mas evitou fazer comparações. "Phelps foi a quatro Olimpíadas, e eu, a duas. Todos os meus ouros foram conquistados com recordes mundiais. Não é comparação, é observação."

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Folha - Phelps anunciou sua aposentadoria logo após Londres. Acredita que ele atingiu o potencial possível?

Mark Spitz - Phelps é jovem o suficiente para nadar por mais quatro anos. Não sei se ele nadaria tantas provas nos próximos Jogos. Mas se ele focasse em só um ou dois eventos com certeza obteria marcas ainda mais rápidas do que as que já registrou.

Acha que ele deveria continuar na natação?

Se Phelps pretende voltar à natação, ainda não deu qualquer indício. Duvido que o faça neste ano ou em 2014. Mas, se quiser ser competitivo no Rio, deve voltar até 2015. Seria ótimo se ele decidisse voltar. Acho que o resto do mundo compartilha minha opinião.

O que poderia impedir um retorno dele?

Se Phelps tivesse uma garantia de que ganharia um ouro, voltaria. Mesmo que envolvesse muito treino. Mas acho que ele teme fracassar.

Em Londres, Phelps sofreu algumas derrotas inesperadas. A chance de um fracasso no Rio é ainda maior?

Phelps já não dominava mais como antes. Mas eu ficaria muito nervoso de competir na mesma prova caso ele voltasse. Não seria agradável enfrentá-lo.

Sempre se compara sua performance em Munique à de Phelps em Pequim. Qual foi a melhor?

É difícil de responder. As duas performances devem ser consideradas relativamente iguais. A minha conclusão é a de que eu se eu e o Phelps nadássemos um contra o outro, haveria um empate.

Você está em cima do muro...

Seria injusto eu apontar quem foi melhor. Por 36 anos eu fui o melhor, mas aí Phelps apareceu, conseguiu o que eu tinha obtido e ainda mais.

Então ele foi melhor nadador?

Phelps fez tudo o que eu fiz em dobro. Tem 18 medalhas olímpicas de ouro, e eu tenho nove. Mas isso significa que fui metade do que ele é? Acho que não. Ele foi a quatro Olimpíadas, e eu, a duas. Há outra estatística interessante: todas as minhas medalhas de ouro foram conquistadas com recordes mundiais. Não é comparação, é observação.

Outra vantagem de Phelps foi a tecnologia. O que achou da introdução dos trajes e do posterior banimento deles?

Quando foram banidos, a natação sofreu um grande retrocesso. Sei que a alegação era de que eles eram caros, e até é compreensível. Mas a federação internacional deveria mantê-los em competições de nível olímpico, porque os fornecedores dariam trajes à elite de qualquer maneira. Com os trajes, os recordes continuariam caindo e isso seria ótimo para a natação.

Você não baniria os trajes?

Não. O traje não nada rapidamente. Se você jogá-lo na água, ele não fará nada. Se eu pegar o taco de Tiger Woods não serei um grande golfista.

E quanto aos recordes, deveriam ser revogados?

Não acho. Mas deveria haver um asterisco para explicar que foram obtidos com trajes que não são mais permitidos.

O que Phelps tem e você não tinha? E o que você tem que ele não tinha?

No meu tempo não havia tecnologia nem qualquer preparação fora das piscinas. Eu tenho 1,85 m e era um dos maiores nadadores em meu tempo. Atualmente, seria um dos menores. Se eu tivesse o equipamento certo e a dieta certa, o que aconteceria? Eu teria sido bem mais rápido.

O que acha de o Brasil receber a Olimpíada?

Acho fantástico. Estive no Rio algumas vezes e sei do ambiente festivo que a cidade tem. Será uma oportunidade para o mundo ver o Rio.

Você se arrepende de ter deixado a natação após Munique?

Não havia muito mais a conquistar. Mas o real problema era que não havia esporte profissional. Eu não conseguia ganhar dinheiro com patrocínios ou com campanhas publicitárias, algo que é trivial hoje. Se as regras fossem diferentes e pudesse ter ganhado dinheiro com a natação, eu continuaria? Claro. E iria até os Jogos de Montréal, porque meus patrocinadores iriam querer.


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