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Espera

Familiares contam quem são e como estão os torcedores corintianos presos na Bolívia

MORRIS KACHANI CESAR SOTO DE SÃO PAULO

Dezenove dias após a prisão dos 12 torcedores corintianos em Oruro (Bolívia), Ivone Araújo Rodrigues, 30, mulher de Marco Aurelio Freire, 31, conhecido como "Cabra", grávida de sete meses, ainda não contou a seu filho de quatro anos por que o pai não voltou para casa.

"Digo que o ônibus quebrou. Mas o menino acha que está demorando muito e pergunta o tempo todo pelo pai", afirma ela.

Já Marco Aurélio, diz Ivone, chora ao ouvir o filho, quando fala pelo telefone com ele.

"O pai tem medo de não ver seu outro filho nascer", conta Ivone. Marco Aurélio é corretor de imóveis e, de acordo com ela, é o único responsável pelo sustento da família.

Os 12 corintianos -nove integram a Gaviões da Fiel e os outros três, a Pavilhão 9- foram presos sob suspeita

de autoria e cumplicidade no disparo de um sinalizador que matou o torcedor boliviano Kevin Spada, 14, no jogo entre Corinthians e San José, pela Libertadores, no último dia 20 de fevereiro.

Na última sexta-feira, a pedido da Folha, mães, mulheres e familiares de nove dos 12 corintianos se reuniram na quadra da Gaviões da Fiel, no Bom Retiro (centro de SP).

A atmosfera era de ansiedade e indignação, sobretudo porque a análise de um recurso que pedia a liberdade provisória dos brasileiros fora adiada naquele dia. A decisão ficou para amanhã.

O único momento de descontração foi quando três mulheres afirmaram que seus namorados detidos lhes prometeram o casamento, por telefone. "Por que vocês não casam vestidas de Gavião?", perguntou a avó de Cleber de Souza Cruz, 21, o "Frajola".

Todos afirmaram conversar diariamente com os presos. No entanto, para conseguir uma ligação, é preciso tentar insistentemente -por mais de cem ou 200 vezes, dizem os familiares.

O presídio comporta 700 detentos e tem um orelhão, que só recebe chamadas.

Os nove familiares dizem que dois torcedores estão desempregados. Os outros sete são autônomos, o que lhes permite flexibilidade para acompanhar o time.

Em comum, o fanatismo pelo time. "O Hugo trabalha para ir ao jogo", afirma a esteticista Luciana Silva, 27, namorada do motoboy Hugo Nonato, 27. Eles se conheceram em um Palmeiras e Corinthians em 2009.

"Nosso lazer é o Corinthians, nossa vida é o Corinthians", diz Gilvânia de Oliveira Guimarães, 19, namorada de Reginaldo Coelho, 35, apelidado de "Cabeção".

Francisca Eliziário Oliveira, 43, auxiliar de laboratório e mãe de Leandro Silva Oliveira, 21, apontado pela investigação boliviana como um dos suspeitos de disparar o sinalizador -um exame teria flagrado resíduo de pólvora em suas mãos-, afirmou: "Quando vejo meu filho sendo chamado de marginal na televisão, tenho vontade de quebrar o aparelho".

Os familiares afirmam que o Corinthians não está ajudando na batalha jurídica, o que é motivo de mágoa para pelo menos metade deles.

CLIMA NA PRISÃO

Segundo as famílias, o relato dos detidos é de que o ambiente hoje na prisão em Oruro é mais amistoso.

No começo, foram hostilizados pelos bolivianos aos gritos de "assassinos".

Quanto às refeições, eles dizem que a comida é muito ruim. Os torcedores só comiam bolacha no começo. "Imagine, os bolivianos comem babosa", diz Gilvânia.

Hoje, marmitas, água e medicamentos são enviados diariamente aos presos. Todos dizem ainda sofrer com a altitude -Oruro está a 3.700 metros do nível do mar. Nariz sangrando e dores de cabeça são comuns.

Raphael Machado Castilho de Araujo, 18, ajudante de transportadora, viajou para a Bolívia com o braço engessado -rompeu os ligamentos da mão ao mirar um saco de pancadas e acertar a parede. Sempre que fala com a mãe, Valcineia, 39, reclama de dores no braço.

Todos os familiares dizem acreditar na inocência dos torcedores presos. Um adolescente de 17 anos, integrante da Gaviões, afirmou ter disparado o artefato. Os responsáveis pela investigação na Bolívia dizem que a suposta confissão não mudará a situação dos 12 detidos.

A Gaviões se responsabilizou pelos honorários do advogado boliviano Jaime Flores. E também pelo aluguel de R$ 1.000 de uma casa em Cochabamba -com endereço fixo, aumenta a chance de obter liberdade provisória.

"Vi fotos e o casarão é bom. Eles vão se divertir por lá. Sorte que as bolivianas não são muito bonitas", diz Daniele Maceratesi, 27, namorada de Danilo Silva de Oliveira, 27.


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