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Crítica Comédia

Ritmo de tiras de jornal faz de peça uma coleção de piadas

A presença dominante de desenhos de Angeli, projetados em uma tela, acaba por minar a potência das figuras encarnadas pelos atores

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

Teatro em tiras e fiapos de riso. "Parlapatões Revistam Angeli" comprou o desafio de transpor as criações de Angeli para a linguagem cênica.

O resultado, admitidos os esforços dos Parlapatões e a riqueza da obra do cartunista, fica muito aquém de seu trabalho em jornais revistas e não acrescenta muito à trajetória do grupo.

A evocação do teatro de revista no título, adaptada a um modo de apresentação dito "rock and roll", tampouco se confirma.

Se uma trilha gravada com números de rock pesado sugere um musical, o fato de ninguém cantar a ponto de sustentar essa proposta compromete sua efetivação.

Do ponto vista da dramaturgia, o roteiro de Hugo Possolo, estruturado em cenas curtas com textos seus e do próprio Angeli, opta por justapor os personagens mais famosos do cartunista.

Assim se sucedem tentativas de vivificar em cena criaturas como Bob Cuspe, os Skrotinhos, Rebordosa, Bibelô ou Meia Oito.

Criações da linguagem gráfica já sofrem alguma perda na tentativa de se recriá-las como presenças reconhecíveis no palco.

Soluções mais e menos felizes de mascaramento tentam ainda se adequar a uma estrutura narrativa problemática, que, feita a partir do ritmo sintético das tiras de jornal, torna-se uma coleção de piadas e não uma trama.

A utilização da imagem de "Angeli em Crise", recurso metalinguístico de que o próprio artista se serve em suas tiras, seja para se projetar na velhice, seja para expressar pontos de vista pessoais em questões políticas ou culturais, não cumpre essa função.

Se o que sustenta o espetáculo são os próprios desenhos de Angeli, projetados de forma ampliada em uma tela, essa presença dominante dos traços do cartunista acaba por minar a potência das figuras encarnadas pelos intérpretes.

Estes também merecem o reconhecimento, pelo esforço máximo de desempenho no sentido de, com a verve de palhaços experientes, conquistarem o público.

Em alguns momentos, os atores entusiasmam e divertem a plateia.

Mas são sempre piadas isoladas, que não conseguem transmutar as tiras geniais de Angeli em correspondente matéria teatral.


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