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Peça retrata Brasil usando universo gângster
Texto de Brecht encenado na rua 13 de Maio celebra 15 anos da Cia. Teatro de Narradores
Cortiços, favela, escola pública, bares e sedes de grupos de teatro, tudo isso na mesma rua.
A 13 de Maio é um cenário vivo que retrata a diversidade da cidade. E, desde a semana passada, reúne também gângsteres norte-americanos dos anos 1930, personagens de "A Resistível Ascensão de Arturo Ui", espetáculo de Bertold Brecht encenado pela Cia. Teatro de Narradores.
Escrita durante o exílio de Brecht em 1941, na Finlândia, a obra paródica compara a ascensão de Hitler na Alemanha à dos gângsteres na Chicago dos anos 1930.
Sua fábula retrata a conversão fascista de uma sociedade gerida pelo capital, chamando a atenção para as formas de dominação e violência que dela derivam.
A Cia. Teatro de Narradores apropria-se desta peça para atualizar suas comparações, se propondo a discutir as relações entre política e crime no Brasil contemporâneo."O gangsterismo tomou conta da nossa forma de fazer política", declara o diretor José Fernando Azevedo.
Sua intenção é entender para onde caminha uma sociedade como a brasileira, cuja fisionomia, segundo ele, é marcada pela violência institucionalizada e cujo convívio é definido por comportamentos de direita.
"Querem nos fazer crer que o Brasil avança economicamente, mas, no que diz respeito ao pensamento político e ideológico do país, estamos regredindo", diz Azevedo.
"A Resistível Ascensão de Arturo Ui" é um marco na carreira do grupo. O texto serviu de base para seu primeiro trabalho profissional, em 2003. Seus integrantes haviam acabado de sair da faculdade de filosofia, da USP.
O Teatro dos Narradores revisita a obra de Brecht buscando ao mesmo tempo revisar o passado, vislumbrar o futuro e iniciar as comemorações de seus 15 anos de estrada -que preveem um projeto de residência no Sesc Belenzinho em junho e julho.
Terá um seminário sobre a trajetória do grupo, além das estreias de "Aquele que Diz Não, Aquele que Diz Sim", de Brecht, e "Retrato Calado", adaptação teatral da obra homônima de Roberto Salinas, filósofo que contribuiu para a origem do Teatro Oficina.
PARA AS RUAS
A nova versão de "Arturo Ui" troca o espaço convencional pelas ruas, radicalizando a pesquisa do coletivo para criar seu "teatro de intervenção". "O choque do texto com a realidade da rua garante atualidade", afirma Azevedo.
O espaço público ganha, pela primeira vez, projeto de iluminação. Apagam-se os postes e entram refletores, que se movem no espaço, definindo o campo de ação.
A trilha, executada ao vivo, atua como elemento fundamental da dramaturgia. Interpretação, maquiagem e figurinos visam uma teatralidade mais explícita.
"O texto de Brecht pressupõe clareza na enunciação. Manter isso na dispersão da rua é o nosso desafio", sintetiza o diretor.