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Crítica - Drama

Diretor sul-coreano desloca espectador em várias ficções

Em "A Visitante Francesa", Isabelle Huppert vive três histórias na Coreia

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

O princípio de "A Visitante Francesa" é o deslocamento. Geográfico, claro, mas não só: a francesa visita a Coreia e se relaciona com coreanos. Ninguém fala, portanto, a própria língua.

Esse é um raro filme que explora a fundo a dificuldade em ser estrangeiro de sua língua. As relações tornam-se por um lado sumárias -todos limitam-se a falar o mínimo necessário-, e, por outro, sujeitas a mal-entendidos.

Há outros deslocamentos. No início, vemos duas mulheres que reclamam de um parente que as levou à ruína. Em vista disso, a mais nova delas decide escrever um roteiro.

Eis o que veremos: esse roteiro, ou fragmentos dele, ou esboços do que seria a visita de uma francesa à Coreia.

Talvez isso seja diferente de dizer que Isabelle Huppert, a francesa do título, vive três histórias num mesmo cenário. Ela passa por três ficções, de fato. Mas existe um outro personagem, que só vemos esporadicamente: a garota com o bloco onde nascem essas histórias.

Ela escreve o roteiro para pagar dívidas da família, mas ignoramos seu destino. Ela é marginal à história que elabora, à sua própria história.

Em "A Visitante Francesa", Hong Sang-soo deixa mais enigmas no ar do que em "Hahaha" (2010). Ali, dois amigos falavam sobre suas paixões (ocorridas em circunstâncias diferentes), sem notar que haviam se apaixonado pela mesma garota.

Desde então, ela não era tão "mesma" assim. Só sua imagem era a mesma. As experiências de cada rapaz produziam mulheres diferentes.

Assim também, mas de forma mais radical, a francesa é uma criatura imaginária, que se faz carne, presença, apenas pela virtude do cinema de transformar ficções em matéria, em coisas.

Esse parece ser o ponto original da empreitada de Hong: captar a distância e ao mesmo tempo a proximidade entre o real e o imaginado, entre fantasia e verdade.

Um exemplo: em todas as histórias vividas pela francesa no balneário, há um salva-vidas que a paquera enquanto ela busca um farol. O salva-vidas não fala bem inglês, e isso produz um movimento de simpatia entre ambos em todas as ocasiões. Mas, em cada história, a relação evoluirá de maneiras diversas.

Por fim, o estilo de Hong, que mistura elegância e leveza, evoca de certa maneira o universo da nouvelle vague, mas sem limitar-se a repetir o passado. É um diretor cujo filme vemos com prazer e atenção e, claro, um tanto desconcertados: também o espectador é um tanto deslocado pelas ficções propostas.


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