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MAM exibe retratos de Warhol travestido

Série fotografada por Christopher Makos é inspirada em obra de Duchamp e Man Ray

DE SÃO PAULO

Em 1921, Marcel Duchamp posou para o fotógrafo surrealista Man Ray vestido de mulher, com direito a chapéus, plumas e casacos de pele --a enigmática Rrose Sélavy.

Seis décadas depois, Andy Warhol se deixou retratar pelo amigo Christopher Makos usando maquiagem e uma série de perucas na famosa Factory, seu ateliê em Nova York.

"Queríamos evocar a história da arte, essa experiência de Man Ray e Duchamp, mas com outro significado", conta Makos à Folha. "Não são fotografias de travesti nem queríamos transformar o Warhol em mulher. É uma série que questiona a identidade."

Estão agora no Museu de Arte Moderna 50 dessas imagens. Warhol aparece com penteados distintos e expressões que vão do deboche à sedução. É só um recorte de um total de mais de 300 fotografias, mas que dão a ideia do poder plástico dessa série.

Não que Warhol seja tão magnético quanto as divas que retratou, de Elizabeth Taylor a Marilyn Monroe, mas mais porque Makos forçou o artista aqui a revelar os mecanismos que ele mesmo usava para transformar um rosto em ícone a ser celebrado.

Nesse ponto, Warhol e seu retratista destrincham o que seria uma operação de construção do glamour. Dois tipos de maquiagem --uma usada para o teatro, com uma grossa camada branca, e outra mais natural-- escondem ou exacerbam as rugas e marcas da idade num dos homens mais vaidosos do mundo.

"Tudo está na linguagem corporal, nas mãos dele", diz Makos. "Não era para fazer uma nova Marilyn, mas ele encarna em algumas poses aquelas mulheres da alta sociedade que ele retratava."

Essa é outra chave de leitura da série. Warhol não só se mostra como mulher, mas parece sublinhar certa fragilidade feminina, mesmo que construída e exagerada.

Makos, aliás, diz que tentou destacar nessa série a ambiguidade sexual que cercava a figura do artista pop e acha que a mostra chega ao Brasil num momento crítico.

"É oportuno fazer essa exposição aqui quando a pessoa que dirige a Comissão de Direitos Humanos [da Câmara dos Deputados] se declara contra amar quem você quiser amar", diz Makos.

"Gostaria de convidar o deputado Marco Feliciano para ver essa exposição. Sempre pensamos no Brasil como um país livre e aberto. Não é bom para a imagem do país ter alguém assim nesse cargo."


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