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Crítica - Ensaio

Trabalho investiga a história de seres exilados na finitude

O LIVRO, BEM ARGUMENTADO E BEM-HUMORADO, COMEÇA COM UMA REFLEXÃO SOBRE A ETERNIDADE NA SUA VERSÃO DE HORROR

LUIZ FELIPE PONDÉ COLUNISTA DA FOLHA

O que é a eternidade? Para muitos essa é uma pergunta tão vazia quanto "de que é feita a substância dos anjos?". Mas a eternidade já foi tão concreta no Ocidente quanto a estrutura do átomo é para nós hoje.

Mesmo nós, ilustres habitantes de uma mundo sem deuses (ou saturado de tantos deuses diferentes que já não faz mais diferença em qual deles cremos), temos surtos de angústia se nos pusermos a pensar em formas de eternidade que a moderna ciência do Universo nos legou.

Carlos Eire, historiador de Yale, escreveu em 2009 um belo ensaio chamado "Uma Breve História da Eternidade", publicado agora pela Três Estrelas, graças a Deus.

Eire é cubano de Havana. Nascido em 1950, aos 11 anos, sem os pais, foi uma das 14 mil crianças resgatadas de Cuba pela operação conhecida como Peter Pan.

Ele traz em si, como homem e intelectual, a marca na carne daqueles que sabem o que grande parte do mundo intelectual ocidental brinca de não saber: que o marxismo não é propriamente um método "científico" para fazer história, mas uma crença fanática em ídolos, como qualquer outra entre as religiões comuns. Eire já dedicou anos de sua carreira ao estudo dos ídolos na tradição judaico-cristã.

Não por acaso seu livro traz uma reflexão metodológica pontual sobre seu modo de fazer história: levando em conta a importância das crenças e ideias sobre a tessitura do tempo histórico e não a suposição de que os meios de produção são a única "matéria" da história.

O livro, de escrita rápida, bem argumentado e bem-humorado (uma delícia de se ler), começa com uma reflexão sobre a eternidade na sua versão de horror (a tal eternidade legada pela moderna ciência): a ciência nos diz que inevitavelmente a humanidade desaparecerá numa eternidade do nada.

Nada --esse "composto" do fim do planeta Terra, do Sol e do Universo como um todo destruído pela "entropia do ser", do espaço e do tempo cósmicos. Essa é a eternidade que nos sobrou.

Eire chama essa versão de Grande Explosão, Grande Sono, Grande Problema.

A partir daí, ele se dedica a investigar a eternidade no hebraísmo antigo, no cristianismo medieval, na Reforma protestante e, finalmente, na passagem da teologia e filosofia da eternidade para um "gerenciamento" da eternidade em "planos quinquenais" no mundo do "não aqui, não agora, nunca", o nosso mundo cotidiano de seres exilados na finitude.


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