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Vanessa vê TV

VANESSA BARBARA vanessa.barbara@uol.com.br

Despedida

Aquele momento em que acaba a luz no meio da novela e todos ficam no escuro, sem ter o que fazer; alguém vai procurar uma lanterna e outro acende uma vela para iluminar não se sabe o quê.

É o instante em que alguém abre um livro, liga o radinho de pilhas, resgata um volume de palavras cruzadas, telefona para a Eletropaulo e descobre que a luz só vai voltar lá pelas três da manhã. Os vizinhos decidem sair à rua, alguns de meias, e há quem se proponha a trazer umas cadeiras enquanto as crianças rolam no chão e comem terra.

A janta é esquentada no fogão, em banho-maria, e as novidades da rua são compartilhadas num telejornal participativo que termina com um adolescente botando fogo num bombril e girando --um espetáculo pirotécnico severamente punido pelos pais. Alguém barbudo aparece com um violão. Um tiozinho já meio bêbado começa a recitar poesia, sendo ardorosamente aplaudido quando se esquece dos versos originais e passa a inventar.

O banho é decretado opcional e a calçada já está cheia de brinquedos, cobertores, tabuleiros de xadrez, uma roda de pôquer à luz de velas, um par de patins e um pessoal que conta histórias de terror sobre um bairro sem luz que é sitiado por zumbis.

Já são 23h30 quando alguém decide ir ao banheiro e descobre que a luz voltou, sabe-se lá há quanto tempo --um segredo que decide guardar para si, pelo menos até terminar a pipoca.

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É chegada a hora de sabotar os disjuntores e desligar a tevê puxando a tomada: depois de 153 crônicas e quase três anos de tendinite provocada pelo constante manuseio do controle remoto, esta coluna deixa de ser publicada hoje, antes que os leitores inadvertidamente cochilem ou mudem de canal.

A partir deste domingo irei transmitir diretamente da revista "sãopaulo", onde revezarei com Fabrício Corsaletti na cobertura dos principais assuntos da cidade --ou nem tão principais assim. Na verdade, um tanto quanto aleatórios.

Foi um prazer dividir este espaço com vocês, continuem enviando mensagens alvissareiras, sugestões, protestos, ameaças e ofensas em geral.

Deixo aqui um agradecimento especial para Águeda Horn, a competente ilustradora deste espaço, que não reclamou nem uma vez dos assuntos mais abstratos e me desenhou com o cabelo azul.

Fiquem agora com nossa próxima atração, "Flor do Caribe". Boa noite.


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