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Crítica - Drama

Com boas atuações, "Esta Criança" tem mérito de apresentar autor relevante

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

A família como doença crônica. "Esta Criança", montagem da peça "Cet Enfant", do francês Joël Pommerat, revela um autor que capta de forma peculiar o mal-estar intrínseco às relações entre pais e filhos. O espetáculo é uma parceria da atriz Renata Sorrah com a Companhia Brasileira de Teatro e reafirma a força deste grupo curitibano.

Pommerat escreveu o texto em 2006, no âmbito de sua companhia, a Louis Brouillard, criada em 1990 e que desde então vem encenando todo ano um novo trabalho.

Preocupado em aproximar o teatro da vida sem disfarces, o dramaturgo cria em "Esta Criança" dez situações dialógicas entre mães/pais e filhas/filhos que têm em comum o desconforto difuso que paira nesses convívios.

Os personagens genéricos, sem nomes e sem chegarem a ser típicos, concretizam sintomas habituais da moléstia familiar, o que acaba reverberando no público, identificado não com esse ou aquele caso, mas incluído numa universalidade epidêmica. Sem enfoque psicanalítico ou sociológico, Pommerat não oferece remédios nem soluções.

Essa opção tem implicações importantes, já que, sem um arco de ação que caminhe para um desfecho e apenas com fragmentos de desencontros entre genitores e gerados, a peça fica longe de efeitos emocionais pungentes. Ao contrário, há nela uma tristeza fria e o compartilhamento de dores indefinidas.

A direção de Marcio Abreu capitaliza essas características da dramaturgia e propõe um espaço cênico descentrado e avançando em diagonal à plateia, como a solicitar uma cumplicidade com a matéria apresentada para além da identificação psicológica. O cenário despido e monocromático de Fernando Marés atende bem ao projeto.

Colaboram também na fruição distanciada procedimentos já característicos do grupo, como interlúdios musicais contemplativos e sutis deslocamentos cenográficos. Mas o principal trunfo da montagem são os atuantes. Giovana Soar e Ranieri Gonzalez, da Cia. Brasileira, e os convidados Edson Rocha e Renata Sorrah.

A veterana atriz encontra ambiente para expor seu talento nas circunstâncias propostas, encarnando uma filha e diversas mães. Não é o mais inventivo dos trabalhos da Companhia nem o mais provocante, mas tem o mérito de apresentar um autor relevante, que aborda os distúrbios familiares como reflexos de um mal sem cura possível.


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