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A real do casal

Novo livro de Mary Del Priore desmistifica história oficial em relação à princesa Isabel e ao conde d'Eu

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

Ele, um membro da Casa da França, criado na Grã-Bretanha e frequentador das rodas aristocráticas europeias. Ela, filha do imperador do Brasil, então um distante reino de hábitos rudes.

"O Castelo de Papel", novo livro da historiadora Mary Del Priore, 60, investiga o momento de transformação do Brasil de monarquia a república através do olhar do casal formado pela princesa Isabel e pelo conde d'Eu.

De origens distintas, ambos assumiram uma cumplicidade amorosa, porém assustada, diante da aceleração dos fatos, ao encarar o modo como a jovem sociedade brasileira se encaminhava para a modernidade republicana.

Baseado em documentos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do Museu Imperial e em jornais da época, o trabalho desmistifica aspectos da historiografia oficial em relação à princesa e ao conde.

A principal fonte foi a correspondência entre o conde d'Eu e seu pai, Luís Carlos Filipe Rafael d'Orléans, duque de Némours.

As cartas revelam uma Isabel diferente. Enquanto a historiografia clássica solidificou a imagem dela como uma figura progressista, amplamente abolicionista e ambiciosa, os documentos a mostram bem menos "revolucionária".

Era uma mulher recatada, dedicada à jardinagem, à família, à religião, até com certo preconceito com relação aos escravos --que terminaria por libertar por meio da Lei Áurea, em 1888.

"Seu olhar é o de uma dona de casa, que se importava com regimes e com o conforto dos filhos", diz Mary, para quem o contexto de fragilidade monárquica determinou a decisão da princesa de estar do lado dos abolicionistas.

A historiadora posiciona-se contra campanha para "canonizar" a princesa. "Ter abandonado o abolicionista André Rebouças, que a acompanha no exílio e morre sozinho, ou o sobrinho, Pedro Augusto, que vai parar num sanatório psiquiátrico, são amostras de que não se tratava de alguém tão generoso assim."

As cartas demonstram ainda uma preocupação crescente do duque de Némours quanto ao destino do filho com o fim da monarquia.

O conde d'Eu havia renunciado a seu lugar na aristocracia europeia para viver no que então se considerava ainda um mundo quase selvagem. O duque de Némours acabaria bancando o filho durante a ruína financeira dele, assim como fez com dom Pedro 2º.

"Tido como um personagem secundário na família real, o conde d'Eu surge nas cartas muito mais ativo, buscando mais protagonismo e chocando-se com a personalidade misteriosa e triste do imperador", diz Mary.


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