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Trecho
"Rivoli deu marcha à ré e bateu em alguma coisa, e essa coisa deu um gritinho quase surdo. Ele saiu do carro, assustado, e foi ver o que tinha acontecido. Só depois de ouvir um vulto gemer já de joelhos no chão, entendeu que tinha atropelado alguém, e foi o que ela disse lá embaixo, num timbre de voz agudo e infantil, gemendo baixinho. "Você me atropelou". Mesmo no escuro ele viu o brilho dos olhos dela, olhando para cima, cercados de superfície lunar, e os cílios compridos de planta carnívora acusando.
Ele a tirou lá debaixo, do chão de cascalho, e a pegou no colo. Ela não era uma criança. Era alguém que estava na festa, e segurava o próprio pulso, olhando séria para ele, tentando consertá-lo com a força do pensamento --e essa foi a primeira demonstração de ilusionismo que Elisa deu para Rivoli. Ela não era capaz de consertar as coisas olhando para elas, mas mesmo que não consertassem --e não consertavam--continuava olhando para elas. [...] No futuro, olharia concentrada para a distração de Rivoli, tentando consertá-la."