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Festival exibe filmes só em formato digital
Para diretor do Varilux, dedicado ao cinema francês, tecnologia barateia os custos
Iniciado anteontem em 40 cidades brasileiras, o Festival Varilux de Cinema Francês deste ano exibirá cópias de seus 15 filmes selecionados apenas em formato digital --e não em película, como feito era tradicionalmente no país.
Segundo o diretor do evento, Christian Boudier, o formato "aumenta a fluidez e barateia os custos", já que não é preciso fazer o transporte físico da cópia do filme --a distribuição foi feita por meio de discos rígidos e pela internet.
Ainda assim, a limitação tecnológica para a projeção do formato se tornou um desafio. "Há poucas salas digitais no Brasil, e elas geralmente são reservadas aos filmes 3D", lamenta Boudier.
Os cineastas também se mostram favoráveis à tecnologia: Benoît Jacquot, 66, francês que concorreu a uma Palma de Ouro em Cannes em 1998, tinha receio de deixar o método tradicional de gravação, mas se rendeu. "A câmera Red [que grava em formato digital] ofereceu perspectivas que eu não podia acreditar que eram possíveis", diz.
Seu filme "Adeus, Minha Rainha", que integra o festival (leia mais ao lado) e conta a história da relação entre Maria Antonieta e sua leitora oficial de livros, foi sua estreia no formato. "Nunca gravarei com película novamente."
O diretor Philippe Le Guay, 56, também defende o uso do digital --ele rodou seus últimos dois filmes nesse formato: "As Mulheres do 6º Andar" e "Pedalando com Molière", sendo que o segundo está no Varilux. "A ideia de não fazer uma tomada a mais, porque é cara, deixou de existir."
Segundo Le Guay, os arranhões que apareciam durante a projeção o incomodavam. "Estou feliz em ver os filmes todos exibidos sem interferência na imagem", diz.
"Poder gravar quantas tomadas eu quiser e depois ter mais o que escolher na sala de edição é muito bom", diz.
Os diretores também afirmam que o método está se transformando no padrão na Europa. Os laboratórios de revelação de filmes estão todos fechando e, na França, quase todas as salas exibem cópias digitais, dizem.
A preferência pela tecnologia, contudo, não é unânime entre os presentes na mostra. Christa Theret, 21, que chegou a ser cotada para protagonizar "Adeus, Minha Rainha", diz preferir a película porque "ela oferece uma textura à imagem, é mais bonita."
Theret, que está em dois filmes do festival --"Renoir" e "O Homem que Ri"--, gosta da liberdade oferecida pelo formato digital, mas não acha que a troca compense. "Um pelo fora do lugar pode estragar toda uma tomada, mas isso nos torna mais exigentes."