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Mostra de pintura chinesa tem obras de perspectiva vertiginosa

Exposição contrasta linguagens do país ao longo de 600 anos

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Um jardim é tão grande quanto um grão de mostarda. Esse paradoxo visual, síntese de uma perspectiva que contrasta o diminuto com o gigante, estava no centro de um dos maiores manuais de pintura chinesa, livro que orientou a busca de Henri Cernuschi por obras de seis séculos do gigante asiático.

Economista italiano radicado em Paris, Cernuschi fundou ali um museu na virada para o século 20, juntando as 5.000 peças que comprou numa viagem à China. Agora, a Pinacoteca do Estado reúne as pinturas desse acervo.

Estão lá desde leques do século 14 até pinturas em seda e papel do século 20, passando por obras dos chineses que se radicaram em Paris.

Zhang Daqian, que morreu há 30 anos, é um desses que viajou o mundo todo, mas não esqueceu a perspectiva daquele grão de mostarda.

Em sua pintura do monte Emei, uma das maiores montanhas da China na província de Sichuan, um poema grafado na tela fala do tamanho diminuto do observador diante da paisagem monumental.

Nas primeiras salas da mostra, aliás, essa perspectiva se revela deslumbrante. Contrariando a lógica ocidental, "uma pintura não é uma janela que deveria se abrir para uma paisagem", mas uma "viagem móvel", como explica o crítico Cédric Laurent.

No lugar da perspectiva centrada, três vistas simultâneas, uma frontal no centro, outra inclinada para baixo e uma terceira voltada para cima se juntam num painel vertiginoso, ancorado no movimento dos olhos pela trilha que sempre leva ao topo da montanha --uma paisagem que se desenrola no tempo.

"Na China antiga, a montanha era considerada o local de residência dos imortais e dos espíritos", escreve Laurent no catálogo da mostra. "Ir até lá correspondia a uma experiência metafísica."

Nesse deserto, mas também nas florestas da China, pintores se esmeravam nos retratos das plantas, com suas enormes flores de lótus, e dos animais do país.

Gao Qipei, que viveu na virada do século 17 para o 18, tem na mostra a pintura que fez a dedo de dois cervos numa clareira. Enquanto o corpo dos bichos é feito com a ponta dos dedos, os detalhes, minúsculos, são desenhados com as unhas, do tamanho de alguns grãos de mostarda.


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