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Italiano é aplaudido três vezes e sai como favorito à Palma de Ouro
"La Grande Bellezza", de Paolo Sorrentino, faz crítica às elites
Em sua quinta participação na mostra competitiva em Cannes --tendo vencido apenas o prêmio do júri por "Il Divo", em 2008--, o italiano Paolo Sorrentino finalmente pode ser considerado favorito à Palma de Ouro com seu "La Grande Bellezza", aplaudido três vezes em sua primeira sessão no festival, anteontem.
O cineasta, que teve seu "Aqui É o Meu Lugar", com Sean Penn travestido de Robert Smith (The Cure), lançado recentemente no Brasil, faz uma dura e divertida crítica às elites intelectual, política, econômica e até religiosa da Itália (retrata uma "santa signora" como um zumbi de hábito).
Usando o escritor e jornalista Jep Gambardella (Toni Servillo), Sorrentino passeia por Roma como Woody Allen.
No entanto, destila um humor mais filiado ao clássico "O Discreto Charme da Burguesia" (1972), de Luis Buñuel, e um visual felliniano --o protagonista seria sua versão do jornalista de Marcello Mastroianni de "A Doce Vida" (1960).
Os diálogos são afiados. Gambardella, ao entrevistar uma artista performática, pergunta o que ela quer dizer por "vibração". Ela se perde, implorando para o repórter questionar sobre como foi estuprada pelo pai ou como fez sexo com 200 homens.
Sorrentino não perdoa a pseudointelectualidade italiana, apesar de se apaixonar demais pelo mundo da alta sociedade romana, grotesca e vazia. Acerta em cheio quando mostra o vizinho corrupto preso, aos berros: "Eu faço esse país andar para você festejar durante a noite".
Mas derrapa no excesso narrativo e no abuso de câmeras em movimento, como se precisasse provar sua habilidade a partir do emprego de gruas. Talvez um prêmio maior coloque o italiano de vez nos trilhos.