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Crítica - Drama
"Les Salauds" mostra diretora inspirada, mas sem a força de longas anteriores
PEDRO BUTCHER COLABORAÇÃO PARA A FOLHAO prestígio de Claire Denis pode ser medido pela quantidade de estrelas do cinema de autor na plateia de "Les Salauds" (os canalhas), exibido na noite de terça-feira na mostra Um Certo Olhar.
Catherine Deneuve, Jane Campion, Costa-Gavras, Leos Carax, Kylie Minogue, a atriz chinesa Zhang Ziyi e mais um punhado de personalidades presentes em Cannes foram conferir o 15º longa-metragem da cineasta francesa, responsável por uma das obras mais sólidas e interessantes do cinema contemporâneo.
No entanto, na medida em que o desenrolar da história trazia à tona temas como suicídio, vingança, famílias disfuncionais, um vilão rico e abuso sexual de menores, um pensamento se tornaria inevitável, principalmente para seus admiradores: "Até tu, Claire Denis?".
Teria a cineasta que sempre primou pela fuga da obviedade se rendido aos temais mais recorrentes da atualidade?
Aos poucos, os objetivos da diretora vão ficando mais claros. O filme parece querer traduzir o profundo mal-estar que se estabeleceu a partir da crise econômica europeia, ao mesmo tempo em que parece sugerir que as raízes desse mal-estar são muito anteriores à crise.
O que dá partida à trama, afinal, é um suicídio provocado por uma falência.
A recessão é evocada algumas vezes nos diálogos, e um dos personagens centrais é um milionário corrupto. Mas não demora a ficar claro que o problema nunca esteve fora. O suicida não é uma vítima "do sistema". Aliás, tampouco chega a ser uma vítima. O agente da putrefação era interno.
Denis continua sendo uma cineasta de verdade, uma "construtora" de atmosferas de talento único.
Mas, apesar dos momentos de incrível força --ajudados pela música do grupo Tindersticks-- e do incrível naipe de atores, chefiado por Vincent Lindon e Chiara Mastroianni, "Les Salauds" não chega a figurar entre os filmes mais inspirados da diretora, como os impressionantes "Beau Travail" ou "35 Doses de Rum".