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Crítica - Drama

Escolhas equivocadas comprometem nova adaptação de peça

Versão para o cinema de "Bonitinha, mas Ordinária", obra de Nelson Rodrigues, perde-se em proposta realista

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Como "Bonitinha, mas Ordinária" é a adaptação de um texto de Nelson Rodrigues (1912-1980) e Moacyr Góes seu realizador, de imediato pode-se pensar em duas hipóteses.

Poderia acontecer um outro acerto como aquele "Maria, Mãe do Filho de Deus" (2003), em que Góes conseguiu superar bravamente a canastrice do padre Marcelo? Ou aconteceria algo próximo do desastre que foi "Dom" (2003), sua adaptação de Machado de Assis?

Basta, porém, uma cena, na abertura do filme, para que notemos o quanto "Bonitinha" estará léguas atrás mesmo de adaptações apenas razoáveis das obras de Nelson.

Nesta sintomática cena, a câmera gruda desde o princípio no rosto dos atores, que desenvolvem um diálogo em campo e contracampo.

Quando o plano se abre, apenas enfatiza a embriaguez de Edgar (João Miguel), o rapaz pobre que recebe uma proposta milionária para se casar com a filha de um rico industrial. Peixoto (Leon Góes), o que faz a proposta, vai ao banheiro cheirar cocaína.

Já fica claro que tudo girará em torno de comportamentos anômalos: de Maria Cecília (Letícia Colin), a garota que se faz currar por um bando de favelados, a Edgar, passando por Ritinha (Leandra Leal), a moça que se prostitui para cobrir um rombo bancário...

Esses personagens ganham um quê realista que não conecta nem o catolicismo trágico de Nelson Rodrigues, nem qualquer tipo de realismo. Ficam a meio caminho de tudo.

Não há, portanto, como se espantar com as fragilidades do filme: a favela ameaçadora, a composição de uma Maria Cecília sonolenta, as bravatas do industrial, a direção de atores desencontrada...

Moacyr Góes parece ter escolhido um texto de Nelson Rodrigues como forma de chegar a um tipo de filme popular para a classe média: há algo de muito equivocado aí, do que resulta uma "Bonitinha" bem decepcionante.


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