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Crítica - Romance

Títulos que inauguram projeto questionam a ideia de autoria

IDELBER AVELAR ESPECIAL PARA A FOLHA

País de notável tradição narrativa, o Uruguai é menos conhecido entre nós do que outros centros de produção literária da América Latina.

Mario Levrero (1940-2004), autor do romance "Deixa comigo" (1994), dialoga com as duas grandes vertentes de seu país.

Levrero compartilha a fluência conversacional com a literatura realista de Mario Benedetti (1920-2009), mas também evoca a atmosfera onírica e alucinatória da ficção experimental de Felisberto Hernández (1902-1964).

"Deixa Comigo" é a história de um escritor que tem seu romance recusado pela editora, mas recebe uma tarefa que pode lhe valer um bom dinheiro: descobrir o autor de um excepcional manuscrito assinado com o pseudônimo Juan Pérez.

A busca implica uma viagem a Penurias, o povoado do qual viera o pacote. As pistas levam-no a toda uma galeria de figuras provincianas, incluída uma prostituta e uma funcionária dos correios que jura que a letra no envelope é feminina.

O surpreendente final amarra todas as pontas, como é de costume em Levrero.

Horacio Castellanos Moya chega ao Brasil com seu livro mais escandaloso. "Asco: Thomas Bernhard em San Salvador" (1997) rendeu-lhe ameaças de morte e a impossibilidade de retornar a El Salvador, de onde se exilara já no início da guerra civil no país (1980-1992).

Os personagens de "Asco" são Vega, salvadorenho que retorna depois de 18 anos anos de exílio para o enterro da mãe, e seu velho amigo Moya.

Vega monologa sobre o nojo que lhe provocam a corrupção, o futebol, a rendição da esquerda ao dinheiro, o analfabetismo e outras mazelas do país.

O texto se apropria do gênero por excelência do conflito centro-americano, o testemunho, mas desmonta sua autoridade ao fazer do protagonista uma figura caricata, ainda que certeira em suas críticas ao país.

A série coordenada por Joca Reiners Terron se inaugura com dois textos que colocam em questão a autoria.

Levrero relata como se encontra um autor onde menos se esperava. Moya demonstra os perigos da identificação fácil entre voz narrativa e voz autoral.


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