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Crítica - História

Atual, livro de Eric Hobsbawm discute a massificação da cultura no século 20

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

A ascensão da cultura de massas e os saltos científicos e tecnológicos revolucionaram a arte e a cultura no século 20. Eleitores e consumidores ganharam a cena, fazendo ruir ranços elitistas.

Avaliar essa transformação é o cerne de "Tempos Fraturados", de Eric Hobsbawm (1917-2012). O livro reúne palestras, resenhas, ensaios e outros escritos produzidos de 1964 a 2012 pelo historiador marxista, autor de obras capitais, como "Era dos Extremos" e "A Era das Revoluções".

Pizzas, cafés, estádios de futebol, shows de rock, religião, ciência: tudo entra no caldeirão do historiador. Por ele transitam Tom Mix (1880-1940), Marcel Duchamp (1887-1968), Dziga Vertov (1896-1954), Andy Warhol (1928-1987), Picasso (1881-1973).

Descrevendo a evolução de várias formas de expressão cultural, ele fala de crise na pintura e na escultura. Já a democratização e a alfabetização em massa explicam a ascensão da literatura.

Na sua previsão, o livro impresso sobreviverá: "Não há nada mais fácil de ler do que o livro de bolso pequeno inventado por Aldus Manutius em Veneza no século 16", diz.

Como "pintura é luxo, mas casa é necessidade", o historiador enxerga muita vitalidade na arquitetura. Trata da trajetória da arte que passou pelas igrejas medievais, as casas de ópera ("as catedrais da burguesia") e as estações ferroviárias ("as catedrais do progresso tecnológico").

Hoje, os novos ícones da esfera pública são os shoppings, os hotéis e os estádios para shows e esportes, com destaque para esses últimos.

Para Hobsbawm, a verdadeira revolução das artes no século 20 não foi realizada pelas vanguardas, mas pela "lógica combinada da tecnologia e do mercado de massa, ou seja, pela democratização do consumo estético".

Aí entra o cinema, a arte central do século 20. "Guernica', de Picasso, é incomparavelmente mais expressiva como arte, mas, falando tecnicamente,...E o Vento Levou', de Selznick, é uma obra mais revolucionária", defende.

Os textos são salpicados por opiniões provocadoras. Por exemplo, quando ele decreta que a obra de arte de vanguarda mais original na Grã-Bretanha do entreguerras é o mapa do metrô de Londres. Que não foi produzido como obra de arte, mas como "eficiente solução técnica para um problema de como apresentar informações".

ARTE E PODER

Hobsbawm escreve sobre a relação entre arte e poder em vários períodos. Hoje as grandes corporações tornaram-se patrocinadoras das artes, como os príncipes e banqueiros do passado. Nos EUA, "fazer doações para a cultura tem sido o caminho para os super-ricos alcançarem o topo da árvore social", afirma.

Em texto de 2010, o marxista analisa "o declínio dos grandes intelectuais protestativos": "Onde estão os grandes promotores de campanhas e signatários de manifestos?".

Para ele, a sociedade de consumo ajudou a despolitizar os cidadãos ocidentais. Hobsbawm considera esse fenômeno uma vitória parcial da globalização neoliberal, constatando que os intelectuais de protesto perderam espaço para as chamadas celebridades.

Mas o tom do livro nada tem de saudosismo. Ao contrário, ele se preocupa em identificar tendências e buscar suas raízes históricas. Em escrito inédito, por exemplo, alerta para o avanço da política baseada em radicalismo religioso.

Em outro texto delicioso, discorre sobre o fenômeno do caubói americano, indo muito além da discussão sobre o macho solitário e romântico.

Adverte que "a inventada tradição do caubói é parte da ascensão tanto da segregação como do racismo anti-imigrante; esse é um legado perigoso".

Nada mais atual.


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