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Teatro

Peça dos anos 90 antecipou onda reality

"Deus É um DJ", do alemão Falk Richter, foi escrita em 1998, um ano antes da primeira versão de "Big Brother"

Trama dirigida por Marcelo Rubens Paiva retrata casal confinado que registra seu dia a dia com câmeras

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Faltava um ano para que a primeira versão de "Big Brother" fosse transmitida pela primeira vez na Holanda.

Em 1998, o dramaturgo e diretor alemão Falk Richter farejou a aproximação de um fenômeno e escreveu "Deus É um DJ", peça em que um casal, confinado em um pequeno apartamento, registra com câmeras seu cotidiano para transmissão pública.

Os realities galgaram história pelos canais de TV do mundo inteiro na década seguinte, e a peça --que entra em cartaz no sábado no Museu da Imagem e do Som, sob direção de Marcelo Rubens Paiva-- hoje parece falar de um tema amadurecido.

Há indícios, no texto, de que o tempo passou: os personagens ainda utilizam fax para receber mensagens, por exemplo. "A gente podia usar outra palavra, e-mail' em vez de fax', mas preferimos manter assim para que o público perceba que estamos falando de um passado muito recente", diz Marcos Damigo, um dos atores em cena.

Ao lado dele, a atriz Guta Ruiz completa o par romântico. Em cena, eles manipulam quatro câmeras, dois computadores, mesa de som e mesa de luz, desdobrando às vistas de 60 espectadores, em um ambiente "um pouco claustrofóbico", as diversas camadas de imagem que compõem o espetáculo.

O texto não é mantido em sua integridade. A adaptação toma a liberdade de inserir a ele cenas criadas em sessões de improviso, algo que foi defendido pelo próprio autor. "Ele também pensa que essa peça precisa de uma espécie de atitude em cena", explica Damigo. O espetáculo, assim, chegou a expandir sua duração de 80 para 90 minutos.

RELIGIOSOS

Embora revele o tom irônico que Richter propõe em sua abordagem do tema, o título "Deus É um DJ" também deu abertura para situações "estranhas" durante a temporada do espetáculo no Rio de Janeiro em 2011.

"Tive várias vezes a sensação de que atraímos público religioso", conta Damigo. "Algumas pessoas entravam no espetáculo sem noção nenhuma do que iam ver", diz, explicando um outro aspecto da concepção, a relação com a plateia. Ao abrirem diálogo com o público, os atores também assumem questões relativas à performance.

Hoje à frente de um dos principais teatros de Berlim, o Schaubühne Berlin, Richter vê algo seminal em "Deus É um DJ". "Acho que meu trabalho se tornou cada vez mais voltado para questões políticas e sociais", diz o autor.

"Estou hoje interessado no modo como a economia conduz nossos pensamentos e ideias. E também no reduzido espaço que existe para qualquer coisa que esteja fora da lógica do mercado", completa, ao falar de sua próxima criação, "For the Disconnected Child" ("para crianças desconectadas", em tradução literal).

"Também continuo interessado em como as pessoas usam tecnologia para criar redes de trabalho e novas formas de comunicação."


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