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Luis Melo mostra peça calcada em ação gestual

Montagem foi criada em parceria com a companhia Dos à Deux

Risco de uma colisão de asteroide com a Terra em 2036 foi usado como ponto de partida para a concepção do espetáculo

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Sabe-se hoje que dois asteroides neste momento se aproximan da Terra, com algum risco de colisão no futuro. Baixo risco, a bem da verdade. Chamam-se Apóphis e 2007 VK184, e a previsão é a de que passem muito próximo ao planeta em 2036 e 2048, respectivamente.

A peça "Ausência", criada pela companhia Dos à Deux em parceria com o ator Luis Melo, faz menção a essa constatação astronômica.

Sozinho sobre o palco, Melo interpreta um homem solitário, confinado em um apartamento na cidade de Nova York, à espera. A peça estreia neste sábado no teatro do Sesc Ipiranga.

O assunto desvia-se de um momento apocalíptico para a solidão do personagem. "O asteroide é só o ponto de partida para a criação", explica Melo, que já apresentou a peça no Rio de Janeiro, em Paris e em outras cidades da França. "Uma coisa que vai acontecer em 2036 já está acontecendo agora", completa, deixando uma espécie de enigma entre as duas sentenças.

Talvez o título da peça diga respeito justamente a essa lacuna, ou aos sintomas dessa ausência. O personagem vive em estado de penúria, com medo de sair de casa. Os alimentos acabam, depois a água, e então ele vive um dilema: matar ou não um pequeno peixe de estimação, a única vida que o acompanha ali dentro, para poder beber a água de seu aquário?

Para desenvolver este fio narrativo, o espetáculo praticamente não utiliza palavras. Sua dramaturgia tem como base uma partitura gestual barroca, com riqueza de detalhes. É um estilo que segue pesquisa de linguagem criada pela Dos à Deux há mais de 15 anos, algo que fica entre o teatro e a dança. A companhia é formada por André Curti e Artur Ribeiro.

ANTUNES REVISITADO

O detalhamento da partitura gestual é vasto, explica Melo, a ponto de haver riscos. "Eu acompanho o trabalho do Dos à Deux desde o início da carreira deles e sempre me perguntei, como é que nada ali dá errado?'", diz. "Depois, na prática, percebi que, na verdade, muita coisa dá errado, sim, e você tem que resolver aquilo na hora. É um trabalho tenso, de muita adrenalina", conclui.

A aproximação de Melo com a companhia foi consolidada pela afinidade de linguagens entre as partes. O ator, que hoje também trabalha na novela das 21h, "Amor à Vida", foi durante anos o principal ator do Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho. "No trabalho com o Antunes, a palavra era a última coisa a entrar", explica.

O silêncio do espetáculo (embora recortado por trilha composta por Fernando Mota), estabelece uma relação de voyeurismo' com o espectador. "É como assistir, de uma janela, às janelas de apartamentos vizinhos", compara. "Quem observa um vizinho, com todas as suas ações, pode montar uma boa história, e aquilo então vira teatro", diz.


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