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Escritor que vem para a Flip disseca jazz em livro

Geoff Dyer retrata grandes músicos em obra de 1991 que sai agora no Brasil

Um dos expoentes do ensaísmo atual, autor inglês afirma que livro iniciou sua vida de "penetra literário"

DANIEL BENEVIDES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Quem são esses caras?", reagiu o editor quando Geoff Dyer, 55, apresentou o livro "But Beautiful", em 1991.

Os "caras" eram Lester Young, Charles Mingus e outras figuras lendárias do jazz.

Mais de 20 anos depois, falando por telefone, de sua casa em Londres, Dyer ainda não perdoa o editor: "Por mim, ele já estaria apodrecendo no inferno".

Justiça feita, David Godwin, hoje um agente literário, errou feio. O livro, agora lançado no Brasil com o título "Todo Aquele Jazz", foi muito elogiado pela crítica e acabou tornando Dyer conhecido como um dos expoentes do novo ensaísmo.

Permeado de digressões, insights originais e relatos pessoais, seu estilo é assumidamente autoindulgente.

Um de seus livros mais curiosos, "Out of Sheer Rage" (inédito no Brasil), por exemplo, é um estudo sobre o escritor D.H. Lawrence que na verdade narra a tentativa de escrever um estudo sobre D.H. Lawrence. O ator Steve Martin declarou ser o livro mais engraçado que leu na vida.

"Todo Aquele Jazz", um exercício do que chama de "crítica imaginativa", é mais reverente, mas não menos surpreendente.

Escrito num ritmo variável, com alguns "solos" e "mudanças de andamento", lembra mesmo o improviso jazzístico. "Sempre busquei aproximar a forma do conteúdo", explica.

E acrescenta, com seu humor elegante: "Se bem que, neste caso, não tive muita escolha, já que tenho pouco conhecimento de música".

Para ele, essa não especialização "dá mais liberdade, torna o livro mais envolvente e dramaticamente mais interessante". Foi com esse livro, afinal, que ele iniciou o que chama de sua vida de "penetra literário", ou seja, "alguém que se mete num assunto que não conhece muito bem".

Seu método é sensorial. Para escrever "Todo Aquele Jazz", mudou-se para Nova York e ficou dias vagando pela cidade com um walkman na cabeça, ouvindo os músicos que pretendia retratar.

Também costuma adotar o princípio da sinestesia. Diz que,"para ouvir Thelonious Monk, é preciso vê-lo tocando", e por isso apoiou-se muito em fotos e documentários.

No entanto, há tempos acha que o jazz morreu. "As coisas mais interessantes que têm surgido guardam aspectos do jazz, mas vêm misturadas com outros gêneros."

Cita entre seus preferidos a banda australiana The Necks e o norueguês Nils Petter Molvaer.

LIBERDADE FORMAL

Em julho, Dyer estará em Paraty (RJ) com a mulher para participar da Flip. No dia 7, às 17h, ele vai falar sobre a arte do ensaio. A seu lado estará o ensaísta americano John Jeremiah Sullivan.

"Tenho gostado mais de ler livros como os de Jeremiah do que a maioria dos novos romances", adianta.

Ele considera que há de fato um movimento novo no ensaio, do qual talvez ele tenha sido um dos pioneiros (Dyer está longe de ser o tipo que se gaba). Elogia David Shields e jovens como o próprio Sullivan, Ben Lerner e Tom Bissell.

Todos aparecem, invariavelmente, como personagens nos próprios livros. São "batedores", como se autodefine Dyer. "Há muito mais liberdade temática e formal nos melhores ensaios feitos hoje."

Mais, inclusive, avalia ele, do que no chamado "new journalism" (novo jornalismo), ou jornalismo literário. "Gay Talese e outros também escreviam na primeira pessoa, mas, no fundo, faziam reportagem convencional."


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