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Crítica - Romance

Narrador fraco não prejudica trama sobre técnico de futebol

ALFREDO MONTE ESPECIAL PARA A FOLHA

Acompanhando a ficção recente, percebemos que alguns escritores voltaram a valorizar a peculiaridade da "voz" do protagonista, cujo paradigma brasileiro mais relevante é Riobaldo.

Nessa vertente, "O Último Minuto" nos apresenta o missioneiro Yannick Nasyaniack, descendente de russos e alemães, "mistura do Sul com estepes", técnico de futebol de um time carioca que, após dez anos foragido, entrega-se para expiar um assassinato. Homem da roça de feição mais arcaica, na prisão tenta entender sua passagem para a esfera urbano-globalizada.

Marcelo Backes, em seu terceiro romance, propõe-se um desafio digno de um craque: não ouvimos a "voz" de Yannick diretamente, mas filtrada (retocada, ele admite) por outro personagem (um seminarista), que acha tudo "estranho" no espécime que tem diante de si, e só aos poucos vai decifrando seus códigos de conduta e linguagem.

Essa mediação permite que as diatribes com relação ao estado do mundo e veleidades intertextuais fluam na narrativa, sem que se quebre a força do relato de Yannick, ou João, o Vermelho, que é grosso, truculento, passional, mas também manhoso.

Nem sempre funciona. Às vezes, o discurso generalizante degringola para a panorâmica didático-moralista.

O maior reparo a se fazer, porém, é que, quando o autor gaúcho esclarece as motivações para seu narrador encetar tão estúrdio relacionamento com o atormentado técnico homicida, não consegue fazer com que ele se torne convincente para o leitor, permanecendo como um ser abstrato, que está ali para representar a impotência do herói.

O "diálogo" entre as instâncias narrativas é muito bem realizado, mas não entre os dois seres que as encarnam (o sentimento de filiação me parece forçado).

Ainda assim, a exegese que o seminarista-escritor faz da "voz" de Yannick (com toda a impureza do processo) é um feito notável e, mesmo com os desequilíbrios apontados, "O Último Minuto" não deixa de ser um baita romance, com o charme adicional de incorporar ousadamente fatos muito recentes da nossa história.


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