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Mostra em SP exibe raros filmes educativos do francês Eric Rohmer

Trabalhos trazem entrevista com o cineasta Jean Renoir e enfocam literatura e artes plásticas

Festival também reúne longas de ficção pouco conhecidos de Rohmer, como "Perceval" (1978) e "Agente Triplo" (2004)

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

O francês Eric Rohmer (1920-2010) sempre foi um mistério, mesmo para seus amigos íntimos. E um dos aspectos que mais chamava a atenção deles era a distinção radical que fazia entre o professor que era na juventude e o cineasta que se tornou.

O primeiro chamava-se Jean-Marie-Maurice Schérer e não se confundia com Rohmer. E é justamente a porção Schérer de Rohmer a mais rara, a que melhor se revela na mostra que começa amanhã no CCSP (Centro Cultural São Paulo).

Ali estarão os filmes educativos que fez depois de perder um cargo de direção da revista "Cahiers du Cinéma". A raridade desses filmes restaurados há pouco não é menor que seu interesse.

Seja quando fala de cinema (como o notável "Louis Lumière", de 1968, em que conversa com o cineasta Jean Renoir e o conservador da Cinemateca Francesa, Henri Langlois), seja quando se dedica a obras literárias, à pintura ou à descrição da paisagem urbana ("Metamorfoses do Concreto", de 1964), Rohmer se mostra preciso na abordagem e rigoroso na mise-en-scène.

Essa parte da mostra dedicada a Rohmer vale também para observar o tratamento sofisticado dado pela França a seu cinema escolar (que na mesma época estava sendo suprimido no Brasil).

TEXTOS CLÁSSICOS

O segundo aspecto, não menos relevante, da mostra traz três filmes pouco conhecidos de Rohmer (aqui Rohmer mesmo). O primeiro, "Perceval, o Gaulês" (1978), foi o primeiro a afirmar de modo radical seu gosto por um tipo específico de trabalho com textos clássicos. Para ele, a única maneira de ser moderno era ser inteiramente fiel ao original.

Foi o que fez com o poema de Chrétien de Troyes: limitou-se a traduzi-lo do francês arcaico para o moderno. Mesmo a cenografia, toda em interiores, se apoia na iconografia do século 12. A mise-en-scène surpreendente (fundada sobre uma cenografia teatral) serve como demonstração do gosto do autor pelas sutis audácias.

Se "Os Amores de Astrée e Céladon" (2007), seu último filme, vai também na direção de reencontro da história mitológica francesa por meio de sua literatura, "Agente Triplo" (2004), o penúltimo, é um estranho filme de espionagem que se realiza apenas pela palavra.

Rohmer desenvolve seu gosto pela ambiguidade instituída por certo desencontro entre as imagens e o que se fala. O mistério desse agente dos anos 1930 do século passado europeu diz respeito a suas atividades, que ele narra copiosamente, na própria casa, mas que, quanto mais as explica, mais obscurece sua natureza.

É pena que essa obra-prima não tenha sido lançada no Brasil. Será vista, agora, ao lado de filmes de cineastas que Rohmer admirava (como Rossellini e Jean Renoir) e ajudará nessa tentativa do CCSP de se recolocar como lugar significativo da cinefilia em São Paulo.


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