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Crítica Romance

Autor usa olhos de adulto para falar de medos infantis

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

Revolver as memórias da infância pode ser doloroso. Voltam os momentos felizes, o gosto de favo de mel, mas também as horas de medo, o sofrimento de ser pequeno num mundo de adultos.

Esses caminhos dizem presente no mais recente livro de Neil Gaiman, um conto que cresceu e virou romance: "O Oceano no Fim do Caminho".

A obra nasceu de experiências vividas por Gaiman: o cenário é a Sussex de sua meninez, os ambientes são baseados na casa em que morou, o carro do pai do personagem foi roubado como o Mini do pai do autor, e o ladrão do automóvel, na vida real e no romance, cometeu suicídio.

Por causa de um velório, o narrador já adulto volta a sua cidade natal. Um passeio pelas ruas onde brincara quando tinha sete anos o leva até a casa das mulheres Hempstock, e ele mergulha no oceano das lembranças.

Em primeira pessoa, conta com olhos e linguagem de adulto as experiências do passado, o encontro com Lettie e os embates com pássaros vorazes e monstros.

Tudo dito de forma simples, um relato despojado que torna as cenas ainda mais terríveis (ou românticas).

Ainda que sem mortos-vivos ou criaturas gosmentas, o texto bebe na fonte de Stephen King: tal como o mestre do suspense, transfigura os medos da infância. Aliás, King é citado por Gaiman nos agradecimentos.

Imbricadas no relato, há grandes frases, como "A língua é o fundamento da construção de tudo", e descrições tocantes, como "A sensação era de que todo o calor de meu corpo havia sido roubado de mim".

Que ninguém se engane com as bruxarias. Por baixo das fantasias, Gaiman discute questões de fundo, como ele disse numa entrevista ao jornal "The Independent".

"Quando somos muito pequenos não podemos fazer realmente alguma coisa --não temos poder de decisão, não temos dinheiro nem recursos, às vezes nem temos ideia do que está acontecendo."


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