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Arquitetos criticam nostalgia e onda de 'estilizar a pobreza'

Convidados de encontro da FAU dizem que estética do social e pressão pelo 'sustentável' levaram à mediocridade

'Todos queremos ser vedetes, estrelas. A sustentabilidade é uma falácia', diz jurado do Pritzker Carlos Jiménez

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Num hotel a quadras da avenida Paulista, onde a onda de quebra-quebra e violência recrudesceu ao longo desta semana, o colombiano Camilo Restrepo, figura-chave da elogiada reconfiguração urbana de Medellín, defendia criar arquitetura para uma população que "há muito já perdeu a crença no Estado".

Juntos em São Paulo para um encontro organizado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, alguns dos nomes mais brilhantes da área nas Américas fizeram uma reflexão --bastante crítica-- sobre os rumos da construção e do urbanismo hoje.

Eles atacam, na verdade, as estratégias da arquitetura na ressaca da crise econômica que abala o mundo. Se é fato que ela teve de se reinventar e perder a exuberância, também virou refém de novos vícios, como criar projetos medíocres mascarados de "sustentáveis" e fazer um retorno nem sempre original a vanguardas do passado.

"Há uma pressão nostálgica para se debruçar sobre o passado", diz Restrepo. "Nos últimos anos, todos os conceitos passaram a ser emoldurados pela estética do social. Estamos estilizando a pobreza, enquanto arquitetura mesmo virou pecado."

Enquanto Carlos Jiménez, um dos jurados do prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura no mundo, falava em aprender com projetos de lugares "menos privilegiados", Tod Wiliams, americano que desenhou uma série de museus nos Estados Unidos, rebatia dizendo não ser possível "romantizar" mais nenhuma situação.

Jiménez reagiu à provocação. "É possível fazer poesia na arquitetura com orçamentos menores. Mas o fato é que sabemos que prédios feitos hoje terão vida curta. Queremos ser vedetes, estrelas, mas temos de pensar em como estamos construindo. A sustentabilidade virou uma falácia."

Ou talvez já não sirva como defesa de projetos ruins. Wilfred Wang, arquiteto alemão que dá aulas nos Estados Unidos, lembra que a pressão hoje não é por projetos verdes, e sim por lugares "autênticos" e "genuínos".

"Desde que acabou o modernismo e que não há mais uma escola hegemônica na arquitetura, temos dificuldade em fazer uma arquitetura decente. Precisamos buscar novas sensibilidades", diz Wang. "Precisamos pensar em como a vontade de fazer aliada ao design pode transformar comunidades inteiras."

Luis Aldrete, arquiteto mexicano, vê como solução uma aproximação com quem de fato constrói os prédios. "Passo muito tempo na obra. Temos de focar nas pessoas para reinventar coisas novas."


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