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Crítica - Comédia

Por trás do machismo, obra de Nelson defende o amor incondicional

'Myrna Sou Eu' tem atuação primorosa de Nilton Bicudo em adaptação que transpõe personagem para estúdio de rádio

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

O poder da imaginação. "Myrna Sou Eu" é um espetáculo que revela a intuição de Nelson Rodrigues (1912-1980) sobre a alma feminina.

Permite também ao ator Nilton Bicudo um desempenho antológico.

A dramaturgia parte do consultório sentimental que o autor sustentou no "Diário da Noite", do Rio de Janeiro, em 1949, focando nos conselhos oferecidos por Nelson às leitoras sob o pseudônimo de Myrna. O diretor e responsável pela adaptação e costura dos textos, Elias Andreato, optou por pontuar, entre as pérolas selecionadas, frases célebres do grande polemista e um pequeno trecho de uma de suas peças.

Mas sua principal operação foi ambientar a personagem em um estúdio de rádio.

Com isso, a escrita do talentoso redator torna-se linguagem oral, destinada aos espectadores ouvintes, numa homenagem ao principal veículo de massa da época.

TRANSPOSIÇÃO

Essa transposição de meios seria insuficiente para garantir a eficácia dramática, não fosse a primorosa atuação de Nilton Bicudo.

Talvez uma grande atriz pudesse enfrentar esse papel, mas nunca encarnaria esse ser imaginário, máscara de um homem sensível, com a mesma verve e pertinência com que Bicudo o faz.

Sem incorrer nunca no excesso da caricatura, e ao mesmo tempo não deixando de ser expressivo e intenso, o ator se faz veículo ideal para as opiniões avançadas desta "especialista".

Por trás de qualquer machismo que personagens de suas peças, ou ele próprio em suas provocativas crônicas, pudessem sugerir, emerge ali uma consciência libertária que privilegia sobretudo o amor incondicional.

Assistir "Myrna" em ação e ao vivo, mais do que lê-la, dá acesso a um Nelson que, brincando de conselheira, diz verdades arrebatadoras.


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