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HQ desconstrói espaço e tempo em viagem

Obra de Emilio Fraia e DW Ribatski acompanha reencontro de irmãos em narrativa cerebral por lacunas da memória

Em "Campo em Branco", dentro de série de escritores e quadrinistas, jovens tentam recriar infância

DOUGLAS GAVRAS COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em uma cidade imaginária, dois irmãos se reveem após muitos anos. Lucio, um jovem e tímido estudante de física, é convencido pelo mais velho, Mirko, a subir uma montanha e refazer uma mítica viagem de infância da qual ele não se lembra.

Espécie de "road movie" em construção, em que direção e sentido são preenchidos no percurso pelo narrador, a graphic novel "Campo em Branco" é fruto da imaginação do escritor Emilio Fraia e do artista DW Ribatski.

O livro, que será lançado hoje em São Paulo, une o traço espontâneo de Ribatski à narrativa não linear de Fraia. O protagonista tenta reconstruir o passado por meio da memória do irmão, mas as lembranças parecem escapar por entre seus dedos.

Fraia, eleito em 2012 pela revista britânica "Granta" como um dos melhores jovens escritores brasileiros, já havia lançado, há cinco anos, o romance "O Verão do Chibo", em parceria com a colunista da Folha Vanessa Barbara.

Com Ribatski, o autor dá sequência a uma série de parcerias entre escritores e quadrinistas pela Quadrinhos na Cia, que já gerou álbuns de fôlego como "Cachalote", de Daniel Galera e Rafael Coutinho, e "Guadalupe", de Angélica Freitas e Odyr Bernardi.

"Desdobrar uma trama como HQ é diferente de criar um romance. O sentido não está só no enredo, mas na organização gráfica que cria significado próprio", diz Fraia.

UNIVERSO PARTICULAR

Para compor a paisagem do livro, povoada de insetos e cenas em azul, branco e preto, Ribatski fez uso de referências pessoais e de fotos que Fraia lhe mostrou após uma viagem sua à Patagônia.

"Cada imagem causa uma sensação. Isso permite que a narrativa não seja apenas uma", diz o quadrinista, que é também músico, professor de artes visuais e autor de "Como na Quinta Série", HQ em que mostra a aproximação inusitada entre um policial e um jovem transgressor.

A bordo do carro "Urso", uma lata velha barulhenta, os irmãos de "Campo em Branco" seguem rumo a um destino que desafia a lógica: não se sabe em que parte do mundo estão, a vila ao pé da montanha é assombrada por um vento incessante, faz frio e calor ao mesmo tempo.

Na dúvida, resta a Lucio preencher as lacunas de sua relação com o irmão, valendo-se de interpretação própria do princípio da incerteza, formulado pelo alemão Werner Heisenberg (1901-1976), segundo o qual é impossível determinar com precisão arbitrária a velocidade e a posição de uma partícula.

"A ideia de algo formado pelos mesmos elementos e que não necessariamente atinge o mesmo resultado pode ser aplicável, simbolicamente, às relações. Ao reencenar uma viagem, criamos experimentações que não conseguem trazer a sombra daquela experiência antiga", reflete Fraia.


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