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Crítica - Monólogo

Ator convence como criança em 'Covil'

Baseada em livro de Juan Pablo Villalobos, peça mostra narcotráfico por um filho de traficante

NA AUSÊNCIA DE UM PENSAMENTO COERENTE ADULTO, PERCEBE-SE QUE A BARBÁRIE ESTÁ EM TODO LADO. ADAPTAR O TEXTO É UM DESAFIO

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O livro "Festa no Covil", do mexicano Juan Pablo Villalobos, é um sucesso literário, aclamado pela crítica. Oferece um olhar invulgar sobre o narcotráfico mexicano por meio do relato de Tochtli, filho de um chefe de cartel.

Ao abordar de forma inédita um problema que reclama centenas de mortes anualmente, já ganhou traduções para 14 idiomas.

A perspectiva do romance sobre a violência do comércio ilícito de drogas sensibiliza para um conflito cujas imagens, exploradas pela mídia, não emocionam mais.

Tece ainda ligações com outros atos e regimes brutais. No mesmo fôlego, o menino menciona as chacinas no México e os ensinamentos diversos que recebe de um professor sobre a Revolução Francesa, a guerra civil na Libéria, o colonialismo europeu e filmes de samurai.

Na ausência de um pensamento coerente adulto, percebe-se que a barbárie está em todo lado.

Adaptar o texto para o palco é um desafio. Primeiro, porque o ator deve interpretar uma criança de dez anos. Segundo, porque o palavreado dela, resultado da clausura no palácio do pai, não aponta para ações cênicas.

A diretora Mika Lins desenvolveu com o ator Marcos de Andrade um personagem convincente. Tochtli possui a timidez, a curiosidade e as emoções de um pré-adolescente.

Quando narra com inocência, torna palpável o quanto são chocantes os atos e falas dos adultos com os quais convive. Emociona quando fica abalado ao presenciar pela primeira vez um assassinato, mesmo que seja de hipopótamos anões da Libéria que tanto queria para seu zoológico.

Mas falta densidade dramática para traduzir a situação ímpar do menino. A inteligente cenografia abstrata de André Cortez é pouco aproveitada. Três paredes articuladas --com janelas e portas para entrar, sair ou sentar-- são movimentadas para criar diferentes espaços.

Raras vezes, quando brinca de avião ou de samurai, Marcos de Andrade envolve-se com o espaço. Contido, foca no discurso da criança.

O ótimo desenho de luz de Caetano Vilela e a música atmosférica de Marcelo Pellegrini realçam os sentimentos de Tochtli ou dramatizam algumas falas. Expõem momentos isolados, sem gerar um conjunto orgânico. Sobretudo na última parte do monólogo, quando o enfoque na faixa etária e nas palavras se esgotam.

A abstração conceitual da montagem segue o intuito do livro. Era preciso maior inventividade cênica para desdobrar o excelente trabalho de direção de ator num espetáculo mais denso.


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