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Crítica - Drama

Peça comove debatendo a família e os preconceitos

Mãe engajada não aceita que filha seja homossexual em 'Aos Nossos Filhos'

CAROLIN OVERHOFF FERREIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No iluminismo, o teatro virou fórum dos problemas da família burguesa que espelhava os conflitos na sociedade. Os palcos exploravam os sentimentos de uma classe em via de ascensão.

"Aos Nossos Filhos", peça de Laura Castro, protagonizada por ela e Maria de Medeiros, recupera esse espaço. Dirigida por João das Neves, faz frente à falta de um debate público sobre os relacionamentos homossexuais que se desdobrou recentemente no projeto polêmico da "cura gay".

Uma mãe engajada e ex-guerrilheira é confrontada com a notícia de que sua filha, num relacionamento com uma mulher há 15 anos, decidiu ter uma criança, gerada na barrigada da companheira. Preconceitos e valores conservadores que persistiram também em um lar politizado são discutidos de modo comovente e que confronta com os diferentes lados.

A peça explora, no fundo, o que significa ser pais, ou melhor, bons pais em tempos que nunca deixam de ser adversos, seja durante o exílio na ditadura ou no contexto de famílias homoafetivas.

Revela que lutas pela igualdade de direitos podem mudar de endereço, mas são sempre parte do mesmo combate por um mundo mais justo.

Medeiros, célebre atriz portuguesa, se entrega com corpo e alma ao papel contraditório de uma mãe engajada, mas autoritária que nunca aceitou que a filha fosse homossexual. Embora haja forte confronto de ideias, os diálogos fazem rir das deixas politicamente incorretas dela. Castro é uma filha sensível, mas convicta, que enfrenta a mãe dominante à altura.

O cenário de Rodrigo Cohen possui a qualidade ambígua das emoções que envolvem mãe e filha. Apresenta uma paisagem de pequenas colinas, lugar ao mesmo tempo árido e acolhedor.

A introdução de flashbacks, que revelam os sentimentos mais íntimos das personagens e o uso repetido da belíssima canção de Ivan Lins não se integram sempre de forma fluida.

A montagem envolvente faz acreditar no poder do diálogo e em sua capacidade de fazer reconhecer e respeitar as diferenças, na família e na sociedade.


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