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Protestar é um dever intelectual, diz escritor egípcio

Alaa al-Aswany, que lança no Brasil coletânea de contos, participa de atos contra o governo do Egito

Para autor, derrubada do ditador Hosni Mubarak em 2011 não fez com que o país avançasse

DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM

Quando as ruas forem tomadas no Egito, amanhã, Alaa al-Aswany estará entre a multidão que pedirá pela saída do presidente Mohamed Mursi, que no fim deste mês completa um ano de seu governo em meio a protestos.

Expoente da literatura contemporânea egípcia e um dos rostos da revolução, ele afirma em entrevista à Folha que manifestar-se, afinal, é sua obrigação intelectual.

"Escrever é uma defesa artística dos valores humanos. Se há milhões enfrentando a poeira nas ruas, um escritor não pode ficar em casa."

A Companhia das Letras lançou neste mês "E Nós Cobrimos seus Olhos" (216 págs., R$ 39,50), coletânea de histórias de Aswany.

O livro se amigará nas estantes com o "O Edifício Yacubian", em que o escritor descrevera --no começo dos anos 2000, bem antes da revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011-- as inconsistências da sociedade. Ambos são testemunhas do estilo realista do autor, que nota que "não é preciso nenhum talento para escrever um texto que ninguém entende".

Aswany, que diz ter estudado espanhol para ler Gabriel García Márquez no original, afirma que o escritor colombiano é seu ídolo por ter resgatado o romance.

"Márquez salvou o livro do estilo misterioso que faz o romance parecer um pequeno produto experimental."

A obra de Aswany é marcada pela visão apurada do drama humano em um país empobrecido e coberto pela areia da corrupção. Mas ele diz que não escreve como "manifesto pela mudança".

"Não acho que a literatura deva ser usada como instrumento político. Se você quer ação real, tem de ir às ruas."

Recusado pelo Ministério da Cultura três vezes por ser crítico ao regime, o lançamento de "E Nós Cobrimos seus Olhos" vem como uma vitória contra a censura.

"Eles me ignoraram por anos. Quando tive sucesso, tentaram me dar um prêmio e eu recusei. Quiseram me usar como propaganda."

Mas Aswany não acredita que, derrubado o ditador, o país tenha avançado. "A Irmandade Muçulmana classifica os autores entre aqueles que apoiam o governo e os que são contra ele", afirma.

"Nós ainda não alcançamos a mudança que motivava a revolução. Hoje, temos outro Mubarak no poder. Continuaremos a resistir."


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