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Crítica - Documentário

Filme expõe dúvidas sobre morte de Jango

Diretor Paulo Henrique Fontenelle sugere investigação de assassinatos políticos de nomes ligados ao ex-presidente

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

João Goulart morreu devido a problemas cardíacos ou foi assassinado no âmbito da Operação Condor? Em torno dessa questão, o cineasta Paulo Henrique Fontenelle constrói o documentário "Dossiê Jango", que estreia hoje.

Ainda que sem uma resposta definitiva para a questão, o filme reforça a necessidade de investigação das causas da morte e de exumação dos restos de Jango. Na tela, um conjunto de depoimentos aponta para a hipótese de envenenamento por troca de remédios.

Jango (1919-1976) tinha problemas cardíacos, mas aparentava estar bem quando morreu na madrugada de 6 de dezembro em sua fazenda na Argentina. Em 22 de agosto do mesmo ano, Juscelino Kubitschek morreu num acidente nebuloso na via Dutra. Em 21 de maio do ano seguinte, Carlos Lacerda morria também em circunstâncias pouco claras.

Num período de nove meses, os três principais políticos da oposição, que haviam se unido na Frente Ampla contra a ditadura militar, desapareciam de cena. Coincidência? Assassinatos em série? A fita sugere investigar esses casos.

Lembra da série de assassinatos de políticos no período: os chilenos Carlos Prats (vice-presidente deposto por Pinochet) e Orlando Letelier (ministro de Allende), os uruguaios Zelmar Michelini e Gutiérrez Ruiz --mortos na Argentina e amigos de Jango.

Tem destaque o trabalho investigativo do empresário, amigo de Jango, Enrique Foch Díaz, que escreveu um livro defendendo a tese do assassinato ("João Goulart, el Crimen Perfecto"). O escritor constatou a morte de 18 pessoas envolvidas no caso, 15 delas de ataque cardíaco.

Exemplo: o médico que atestou a morte de Jango e pedira uma autópsia morreu num "estranho acidente de carro", diz Foch em gravação. Outro: um piloto de Jango perdeu a vida numa viagem de barco quando se encaminhava para prestar depoimento sobre o caso. Sua pasta com documentos desapareceu.

O próprio Foch morreu do coração logo após fazer a gravação relatando as mortes em torno de sua investigação sobre Jango. Nesse clima de detetive, o documentário traz entrevista com Mario Barreiro Neira, ex-agente do serviço secreto uruguaio, que afirma ter participado de um complô para envenenar Jango, com ajuda de um agente da inteligência dos EUA.

O filme de Fontenelle, de certa forma, dá sequência a produções como "Jango", de Silvio Tendler, e "O Dia que Durou 21 Anos", de Camilo Tavares, mas com outro enfoque.

Tendler, desbravador do documentário político no país, buscou fazer uma obra mais abrangente, com boa carga emocional. Transformou o trabalho em símbolo da campanha das Diretas-Já.

Já Tavares focou no contexto da política internacional da época, concentrando-se na pressão dos EUA e na sua participação no golpe militar. Fez um filme contundente.

Agora, Fontenelle passa mais rápido pelas questões políticas de fundo (sem esquecê-las) e se dedica a escarafunchar as nebulosas circunstâncias (políticas?) da morte. O filme é quase um manifesto pela investigação da morte de Jango. A palavra está com a Comissão da Verdade.


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