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Flip 2013

Agora, festa da literatura também fala o espanhol

Juan Pablo Villalobos foi chamado às pressas para o evento em Paraty

Peça 'Festa no Covil', em cartaz, lançou luz sobre mexicano que mora em SP e foi traduzido para dezenas de línguas

SYLVIA COLOMBO DE BUENOS AIRES

Chamado de última hora para substituir o norueguês Karl Ove Knausgård, que cancelou sua vinda à festa de Paraty, o mexicano Juan Pablo Villalobos, 40, é um dos poucos representantes hispano-americanos no evento.

Com isso, a organização corrigiu uma falha na montagem da grade que havia causado estranheza ao próprio mexicano. "Tinha ficado muito surpreso quando li a programação. Parece um fenômeno relacionado à distância que existe entre a cultura brasileira e a desses países, é algo histórico", disse Villalobos à Folha, por telefone.

"O único país com que a produção brasileira tem mais intercâmbio é a Argentina, e há alguns selos pequenos se esforçando para levar novos autores para o português. Mas nos outros países do continente isso é quase nulo. O México não é uma exceção."

Ele chama a atenção, porém, para iniciativas pontuais brasileiras de apostas em novos autores mexicanos, como Valeria Luiselli ("Rostos na Multidão" foi lançado pela Alfaguara), Mario Bellatin ("Flores" e "Cães Heróis" saíram pela Cosac Naify) e Ignacio Padilla ("Amphytryon" e "Espiral de Artilharia", da Companhia das Letras).

Radicado em Campinas, onde vive com mulher, brasileira, e dois filhos, Villalobos fez de São Paulo seu centro de operações. É a partir dali que escreve e traduz textos para revistas estrangeiras e trabalha em seus romances.

Seus livros já foram traduzidos para mais de dez idiomas, como inglês, alemão, francês, italiano, holandês, húngaro, turco, búlgaro, romeno e japonês. Russo e hebraico estão a caminho.

No Brasil, seu nome ganha projeção pelo fato de seu primeiro romance, "Festa no Covil" (Companhia das Letras), ter sido levado aos palcos pela atriz Mika Lins, em cartaz no Sesc Consolação até 30/8.

A história é narrada por um menino, filho de um traficante, cercado pelo imaginário e pela linguagem do narcotráfico. É o primeiro volume da trilogia cujo segundo tomo ("Si Viviéramos en un Lugar Normal") saiu em setembro nos países hispânicos.

O pano de fundo da novela é o México dos anos 1980 de hiperinflação, quando teve lugar uma mudança profunda na estrutura social do país.

Os livros de Villalobos costumam ser vinculados ao que se passou a chamar de narcoliteratura. País cindido por uma guerra do governo contra o crime organizado, o México já coleciona mais de 60 mil mortos desde que essa política teve início, em 2006.

FICÇÃO E CONFISSÃO

"Nós não podemos fechar os olhos para isso, é preciso trazer o tema à tona, mas também não é possível achar que a ficção possa fazer muito para mudar essa situação. Nesse sentido, o jornalismo e o cinema são mais atuantes. Nós, ficcionistas, colaboramos para um olhar crítico e poético do que está acontecendo", diz.

Villalobos diz que sua obra dialoga om a tradição da literatura mexicana. E menciona entre as principais influências as escolas fundadas por Carlos Fuentes (1928-2012) e Sergio Pitol (nascido em 1933).

"Sou mais vinculado a Pitol, que é um escritor mais cosmopolita, brincalhão, realista e lida muito com o autobiográfico. Já Fuentes está mais vinculado à narrativa mais memorialista, historicista."

Sobre o convite feito a Villalobos, que entrou na programação oficial da festa no lugar do norueguês Ove Knausgård, o curador da Flip, Miguel Conde, afirmou: "Era uma substituição difícil por causa do tempo curto e tema específico [O autor debateria ontem, na mesa "Ficção e Confissão", com o norte-americano Tobias Wolff]. Os livros de Villalobos têm uma circunscrição histórica e social clara, mas ao mesmo tempo se valem de protagonistas que lançam sobre esse meio bem delimitado olhares abertos ao devaneio e à fabulação. Por isso, são livros em que a questão da relação entre fatos, experiência e invenção assume uma importância central."


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