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Flip 2013

Mesa reúne dois expoentes do ensaísmo

Geoff Dyer e John Jeremiah Sullivan discutem o gênero amanhã, na mesa que encerra a festa literária em Paraty

Apontado como novo caminho, trabalho de ambos se diferencia por usar primeira pessoa e impressões subjetivas

DANIEL BENEVIDES ISABELLE MOREIRA LIMA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mais livre dos gêneros, na definição do crítico Jean Starobinski, o ensaio surgiu como tema transversal em diversas mesas da Flip e encerra amanhã o evento.

Sob o título, "A Arte do Ensaio", a última mesa da Festa Literária de Paraty vai reunir, às 17h, dois dos maiores ensaístas do momento, o inglês Geoff Dyer, 55, e o norte-americano John Jeremiah Sullivan, 39. O mediador é Paulo Roberto Pires, editor da "Serrote", a principal revista brasileira do gênero.

Autor do recém-lançado "Todo Aquele Jazz", Dyer é frequentemente citado como um dos expoentes do chamado novo ensaísmo, o qual se distingue pelo uso da primeira pessoa por impressões subjetivas e elementos autobiográficos.

Ainda que se entusiasme com essa retomada do gênero entre novos autores ("hoje prefiro ler os ensaios do John Jeremiah Sullivan a qualquer romance"), ele é o primeiro a rejeitar o rótulo: "Meus livros são muito difíceis de classificar, não dá para generalizar".

Sullivan também descarta o hype; para ele, o que há é um interesse renovado pelo ensaio, não propriamente um novo movimento.

Os pontos de contato entre ambos e autores como David Shields e Tom Bissell são numerosos. O que salta aos olhos em seus textos é a própria experiência do autor, não raro contada com humor autopejorativo, tiradas espirituosas e referências à cultura pop.

MÉTODO DE TRABALHO

E uma boa dose de obsessão, como ressaltou Sullivan em entrevista à Folha. Ele pode ficar meses ou até anos ruminando um assunto, reunindo informações e buscando um ângulo original, como mostram os ensaios de "Pulphead".

Mais flexível, Dyer já escreveu livros em poucas semanas e outros em alguns anos. Sua principal questão é achar o tom certo, aproximar ao máximo a forma do conteúdo.

Ao contrário de Dyer, Sullivan é terrível para falar de suas influências ("Nunca lembro o que dizer quando me perguntam. Shakespeare e Hemingway?").

O americano diz achar animador trabalhar com um gênero tão vivo e discutido. "Seria loucura se irritar com o interesse das pessoas pelo tipo de escrita que você faz."

Quando começou a escrever, achava que, além de "quente", o ensaio era uma forma nova. Mais que desilusão, sentiu excitação ao descobrir que estava pisando em um terreno realmente sólido.

"O ensaio é tão velho quanto o romance. Quando entendi isso, passei a me interessar por quem eram os praticantes, os fundadores, os que chegaram e mudaram a forma."

Ensaísta desde os anos 1990, Sullivan acredita que há limitações no gênero. "Algumas vezes penso que queria dizer exatamente o que acho, mas estamos falando de seres humanos reais e há uma certa matrix' social a que pertencemos e que temos que respeitar", diz.

Para vencer esses limites criativos da não ficção, Sullivan descobriu a liberdade na voz do narrador. "Como não posso enfiar um unicórnio na história que estou contando, posso condicionar a resposta do narrador ao que está acontecendo. E não tenho vergonha de fazer isso para alcançar força narrativa."

Embora seja figura constante em seus ensaios, Sullivan não se vê nos próprios textos --para ele, o narrador é um personagem como outro.

"Não sou eu. Não me identifico com aqueles narradores mais do que me identifico com quem é parecido comigo. Eu me uso sempre que posso, uso o que quer que eu tenha. Mas quando olho para essas versões de mim, não estou olhando para um espelho, mas para essa outra pessoa que anda dentro de uma história."


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