Folha de S.Paulo

Crítica - Documentário

Diretor ousa na linguagem para captar a música de Jards Macalé

Um documentário musical sem entrevistas, sem babação de ovo e sem tentativa de explicar o inexplicável. "Jards" experimenta linguagem capaz de transparecer a singularidade do compositor Jards Macalé em seu modo de trabalhar com a criação e o insucesso.

Eryk Rocha evita a cilada da pesquisa e do texto e, por isso, pode deixar frustrado quem busca algo como "a reconstituição da importância ou da trajetória marginal de Jards Macalé".

Sua abordagem é composta de imagens e sons, esboços de aproximação subjetivos em vez de discurso objetivo sobre uma obra. Vê-se Macalé na intimidade, compondo e gravando com o mesmo jeito improvisado que recebe amigos. Ouvem-se variações de canções arquivadas em algum canto e que muitos nem sabem se tratar de músicas dele.

A estratégia às vezes parece desfocada, fica à margem do tema central, detém-se em excesso em fragmentos e provoca a desatenção. À medida que se acumula, no entanto, o procedimento nos captura pelos sentidos, sutil como o artista de quem pega emprestado o primeiro nome.