Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Kafka e ditadura brasileira inspiram espetáculo de dança em cartaz em SP

'Colônia Penal' toma como base anos de chumbo no país e texto de 1914 do escritor tcheco

Politizada, coreografia é a sexta criação de Sandro Borelli feita a partir de textos do escritor tcheco

KATIA CALSAVARA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pela sexta vez em sua carreira, o coreógrafo Sandro Borelli se inspira na obra do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) para falar sobre a condição humana. Depois de encenar "A Metamorfose", "O Processo", "O Abutre", "Carta ao Pai" e "Um Artista da Fome", é a vez de a Cia. Borelli de Dança levar "Na Colônia Penal" aos palcos.

As relações entre violência, prazer, dor e leveza permeiam a obra de Borelli, pautada pela dança-teatro. Assim, ele se diz completamente "viciado" nos escritos de Kafka como referência.

"Ele nos mostra um mundo dominado por um sistema de governo que massacra o cidadão, uma estrutura familiar que fragiliza seus membros, uma religião que rouba sua identidade", fala o artista.

Em "Na Colônia Penal", escrita em 1914 e publicada cinco anos depois, a narrativa trata de um país evoluído tecnologicamente em métodos de tortura que envia um observador a um território subdesenvolvido. A missão é avaliar os procedimentos de sacrifícios punitivos praticados por esse sistema de governo.

"A partir deste roteiro, foi inevitável não inserirmos o tema da ditadura brasileira, um assunto tão doloroso para nós", explica Borelli. Em cena, o anti-herói kafkiano não escapa das garras da tortura.

Artista sempre politizado e que costuma investir em processos de criação bastante intensos, Borelli afirma que o momento atual da história brasileira é apenas mais um entre outros períodos tensos vividos pela sociedade.

Ele cita os inúmeros protestos de professores, os antigos metalúrgicos do ABC, o MST, a marcha pela legalização da maconha e até os sopapos que o então governador Mário Covas levou de manifestantes na praça da República nos anos 1990. "Para mim, este último evento que ocorreu em várias cidades do país foi mais um grande momento social."

Questionado sobre os métodos utilizados atualmente pela polícia, ele também diz não se surpreender. "Desde sempre foi assim."

Borelli comemora o fato de trabalhar com "artistas preocupados com o mundo". "A arte e os assuntos de teor sociopolítico devem estar sempre entrelaçados", afirma ele, que dedica o espetáculo aos mortos e desaparecidos políticos no Brasil entre 1964 e 1985.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página