Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Gullar não se comove com momento das artes visuais
Para ele, colagens que agora lança em livro são apenas frutos de um hobby
Escritor vê protestos com consequências positivas, mas critica falta de representação política nos movimentos
Em "A Menina Cláudia e o Rinoceronte", Gullar assina as ilustrações. No livro, Cláudia tenta ajudar uma rinoceronte a engravidar.
Este é o quarto livro de Gullar com a proposta das colagens --já ganhou um prêmio Jabuti de ilustração com um deles, "Bananas Podres".
Sobre esta surpreendente faceta do consagrado poeta, ele comenta, em tom de brincadeira: "Estou virando artista plástico sem querer".
"Descobri o acaso como uma coisa altamente criativa para mim", acrescenta ele, que tem sólida carreira como ensaísta em artes plásticas.
Folha - Por que o acaso?
Como não tenho motivação especial, o acaso sugere caminhos. Inclusive eu acho que esse processo de jogar os papéis à toa devia ser adotado nos colégios, porque qualquer criança pode começar a criar a partir disso. Quando estou fazendo esse trabalho é como se fosse um garoto.
O poema também é fruto do acaso?
O poema é exatamente o contrário, por isso estou há vários anos sem escrever. Porque se não sou levado pelo espanto, não escrevo. A poesia mesmo nasce de um estado de espírito de perplexidade diante do mundo. Não é algo que você faça porque quer. O poema utiliza a linguagem verbal, que é organizada.
Considera-se artista plástico?
Não, eu faço como hobby, como algo que me distrai e diverte. Estou virando artista plástico sem querer (risos).
Como avalia a produção de artes plásticas atual?
Se o cara bota urubu dentro duma gaiola, ou casais nus dentro de um museu, pra mim isso não é arte. Não me comove. Arte é uma coisa que as pessoas fazem, a natureza não é uma coisa que as pessoas fazem.
Como avalia o momento político atual?
É importante o pessoal protestar contra a situação, isso terá consequências positivas.
Só vejo um problema grave, que é de não haver representatividade política nos protestos. O país para ser governado tem que ter partidos e líderes.
E o comunismo?
O comunismo acabou, ele prestou e cumpriu seu papel como visão revolucionária que alimentou gerações e ajudou o processo social a avançar sobretudo na área do trabalhador, que conquistou mais direitos.